Mesas vazias: em casos de recessão profunda, recuperação é mais demorada (Mario Tama/Getty Images)
João Pedro Caleiro
Publicado em 22 de agosto de 2017 às 12h12.
Última atualização em 22 de agosto de 2017 às 13h03.
São Paulo - O pico do desemprego no Brasil já passou: a taxa caiu de 13,7% no 1º trimestre de 2017 para 13% nos 2º trimestre, de acordo com a PNAD Contínua do IBGE.
Mas ainda vai demorar anos para a taxa voltar ao nível registrado antes da crise, de acordo com um estudo divulgado nesta terça-feira (22) pelo Credit Suisse.
O banco prevê só para o 3º trimestre de 2022 o retorno do desemprego para os 6,5% registrados no quarto trimestre de 2014. São 34 trimestres de espera, e isso se o país crescer 2% a partir de 2018.
Se a economia crescer 3%, a volta do desemprego de 6,5% seria antecipada para o 1º trimestre de 2021. Se crescer 4%, o retorno fica para o 3º trimestre de 2020.
O estudo analisou 123 episódios recessivos das últimas décadas em vários países e viu que a regra é que o PIB se recupera mais rápido e só depois vem a reação do mercado de trabalho.
Em 12 casos, nem PIB nem desemprego voltaram para o nível pré-crise. Em 59 casos, o PIB voltou para o nível pré-crise, mas o desemprego continuou acima.
Na média dos 50 países em que houve recuperação total da economia, o PIB demorou 7 trimestres e o desemprego demorou 9 trimestres para voltar ao nível pré-recessão.
Mas em casos de recessão profunda como a brasileira, os prazos de recuperação foram mais longos: 15 trimestres para o PIB e 17 trimestres para o desemprego.
Estes são os números mínimos e supõe que a economia vai retornar para o nível pré-crise. Mas há outros elementos em jogo, já que o trauma da recessão pode causar mudanças permanentes.
A literatura econômica chama isso de histerese, um termo da física para classificar o fenômeno de materiais que conservam propriedades mesmo sem o estímulo que as gerou.
Estudos mostram, por exemplo, que os indivíduos demitidos ou que não conseguem entrar no mercado durante uma recessão tem sua qualificação e rendimentos afetados pelo resto da vida, reduzindo a eficiência geral da economia.
As crises também mexem na composição dos setores de atividade, exigindo que trabalhadores sejam realocados de um para o outro, um processo que gera custos de requalificação, por exemplo.
É por essas e outras que muitas recessões podem causar uma alta na "taxa natural" de desemprego, aquela que pode ser sustentada sem causar aumento da inflação.
No caso do Brasil, a estimativa do Credit Suisse é que a taxa natural suba mais de dois pontos percentuais e fique acima de 9,5%, mas isso depende também da flexibilidade do mercado de trabalho.
Um estudo recente do Itaú, por exemplo, calcula que a reforma trabalhista pode reduzir a taxa de desemprego estrutural brasileira em cerca de 1,4 ponto percentual.
Um estudo recente da FGV concluiu que a rigidez do mercado de trabalho contribuiu para que o atual ciclo recessivo fosse marcado por uma alta do desemprego relativamente acentuada e uma queda da renda relativamente suave na comparação com outras crises recentes no país.