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Da Redação
Publicado em 17 de fevereiro de 2014 às 19h56.
Tóquio - A economia japonesa desacelerou no último trimestre do ano passado, o que faz temer que o aumento de impostos previsto para abril possa fazer descarrilhar o projeto do primeiro-ministro Shinzo Abe para devolver o país ao caminho do crescimento.
O Produto Interno Bruto (PIB) da terceira economia mundial cresceu 1,6% em 2013 - seu melhor resultado em três anos - mas os dados do quarto trimestre significam um desafio para Abe e sua política econômica, a "Abenomics".
Desde a vitória dos conservadores nas eleições do final de 2012, com a promessa de devolver ao Japão seu status de potência econômica, o iene perdeu cerca de um quarto do valor com o dólar, dando um estímulo às exportações. A Bolsa de Tóquio subiu 57% em 2013, seu melhor resultado em mais de quatro décadas.
Contudo, os críticos temem que a alta prevista do IVA em abril, que passará de 5% a 8%, considerada crucial para reduzir a enorme dívida do país - vai minar a incipiente recuperação de uma economia lastrada por anos de deflação.
Abe pediu às empresas que aumentem os salários para que os consumidores possam enfrentar o aumento de preços, apesar de muitos empresários se queixarem de que ainda não tinham visto os lucros da política econômica do governo conservador.
Tóquio lançou um pacote de estímulo de 50 bilhões de dólares para contra-atacar os possíveis efeitos da primeira alta do IVA desde o final da década de 90, uma medida que precedeu anos de modesto crescimento.
Abe anunciou nesta segunda-feira que espera que as negociações trabalhistas desta primavera desemboquem em uma alta generalizada dos salários, apesar de que até agora não há sinais de que será assim.
"Esperamos que os salários aumentem mais que no ano passado", disse Abe ao parlamento. O ministro de Economia, Akira Amari, disse que a "demanda interna continua em boa forma".
"A tendência econômica está em alta, liderada pela demanda do setor privado", disse o ministro da Economia à imprensa nesta segunda-feira.
Apesar do tom otimista do governo japonês, os dados sobre o crescimento anual superaram modestamente os de 2012, antes da chegada de Abe ao poder.
Consumidores ainda cuidadosos
O consumo de particulares e empresas não conseguiu decolar na última metade do ano, colocando em evidência as reservas que ainda existem.
"É possível que a demanda se acelere antes que o IVA suba (no primeiro trimestre), mas cairá no segundo", prevê a Capital Economics.
O Japão liderou o crescimento do G7 na primeira metade do ano, mas no último trimestre, o PIB cresceu só 0,3%, muito inferior a 0,7% que esperavam os economistas, segundo o jornal econômico Nikkei.
A desaceleração se deve, em boa parte, ao medíocre resultado das exportações, disse Yoshiki Shinke, economista chefe do Dai-ichi Life Research Institute e ao aumento das importações de energia, após o acidente de Fukushima, que prejudicou o déficit comercial.
A força das economias mundiais, em particular nos Estados Unidos, será um fator chave para a economia japonesa este ano, disse Shinke.
Os resultados industriais de dezembro, publicados nesta segunda-feira, foram revisados para baixo a 0,9% em relação ao mês anterior, frente a 1,1% previsto inicialmente.
O aumento do IVA se apresenta como a maior ameaça para os esforços de Abe e gerou o temor de que o Banco de Japão (BoJ) possa ser forçado a injetar mais dinheiro à economia para conter a desaceleração.
O programa lançado pelo BoJ, que nesta segunda-feira iniciou uma reunião de dois dias, é a pedra angular da política de Abe, que alterna grande gasto e uma política monetária acomodatícia.
Também defende mais reformas, incluindo acordos de livre comércio, mais flexibilidade no mercado de trabalho e uma maior integração da mulher no mercado de trabalho.
A economia japonesa cresceu 1,4% em 2012 e se contraiu 0,5% em 2011, ano do terremoto e do tsunami que originou a crise nuclear.