Torcedor brasileiro se esconde após derrota do Brasil para a Alemanha pela semifinal da Copa do Mundo (REUTERS/Ruben Sprich)
Da Redação
Publicado em 13 de julho de 2014 às 15h27.
Nova York - O vexame do Brasil no jogo contra a Alemanha e a seleção brasileira fora da final na Copa do Mundo podem afetar, ainda que de forma temporária, os já baixos níveis de confiança do consumidor no País, afirmou ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, o vice-presidente e economista-chefe do Conference Board, Bart van Ark. "Recessão no Brasil não é algo impensável na segunda metade do ano" disse ele.
O economista explicou que eventos costumam ter um impacto, positivo ou negativo, de curto prazo em índices de confiança, durando normalmente cerca de três meses e desaparecendo em seguida. Mas no caso brasileiro, o vexame na Copa vem em um momento de confiança já abalada do consumidor. "Definitivamente, não é um evento bem-vindo", disse ele ao Broadcast após um evento na semana passada do The Conference Board em Nova York para comentar perspectivas para a economia global.
"A derrota do Brasil é um fator a mais para um longo período de baixos índices de confiança no país", destacou o economista, ressaltando que os brasileiros já têm mostrado um descontentamento e um certo desconforto desde os protestos do ano passado.
"O índice de indicadores antecedentes no Brasil tem se enfraquecido nos últimos meses. Há muitas fraquezas cíclicas puxando a economia para baixo, como os baixos níveis de confiança dos empresários e dos consumidores e a derrota na Copa não vai ajudar a melhorar isso", afirmou no evento do Conference Board o economista responsável pelo cálculo dos índices de indicadores antecedentes, Ataman Ozyildirim.
Para o Brasil voltar a crescer mais, a recomendação de Bart van Ark é que o país faça uma transformação e reduza o peso do consumo na economia. É um processo inverso ao da China, que busca uma economia mais dependente do consumo interno e menos do investimento e das exportações. O Brasil, disse ele, precisa reduzir o peso da demanda doméstica e estimular mais o investimento, que tem tido desempenho fraco nos últimos anos.
Para isso, o Brasil precisa fazer reformas, no sistema tributário, no mercado de trabalho e em outros segmentos, para encorajar os empresários a investir. O economista não comenta sobre política, mas destaca que o próximo presidente, seja quem for, terá o enorme desafio de tentar colocar estas reformas em andamento. "Não será uma tarefa particularmente fácil", afirma.
Sem reformas, o Brasil está fadado a crescer aquém de seu potencial. Para este ano, a projeção do instituto é que o país cresça 1,8%, número menor que o estimado em uma análise anterior do The Conference Board, 2,3%. Mas o economista disse que a previsão, que leva em conta indicadores até maio, já está muito otimista e deve ser reduzida novamente.
Copa e Pessimismo
Ainda segundo economistas, inflação e elevado endividamento falam mais alto para manter o mau-humor da economia pós Copa.
Para Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a inflação elevada e os "juros altíssimos" após o ciclo de alta dos juros determinado pelo Banco Central (BC) são as maiores ameaças à confiança dos consumidores. "São muito mais prejudiciais do que o ataque da Alemanha", diz Bentes.
Na visão do economista José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio, já existia um "enorme pessimismo" com a economia antes da Copa. Durante a competição, o clima de festa entrou em campo e o pessimismo foi esquecido por um tempo. O normal, após o Mundial, seria o pessimismo voltar.
"Depois da derrota acachapante, o pessimismo volta mais rápido e, talvez, com mais profundidade", diz Camargo. No entanto, essa maior profundidade ocorre apenas no curto prazo. "No médio prazo, isso não faz tanta diferença. A questão real da economia é ruim e pesa mais", completa o economista.
Segundo Bentes, o pessimismo com a economia já havia sido identificado nas pesquisas sobre confiança do consumidor da CNC. Do lado dos empresários, porém, a Copa, provavelmente, terá efeitos negativos no comércio em junho e julho. Os vilões, aí, foram os feriados não previstos nas cidades-sedes, em dias de jogos.
Para Camargo, a derrota de terça-feira terá pouco efeito sobre a confiança do empresariado. Ela já está muito baixa, mas aí os principais motivos são a baixa atividade econômica e o intervencionismo do governo na economia - as medidas para a redução da energia elétrica são o principal caso, segundo o professor da PUC-Rio. Colaborou Vinicius Neder