Shinzo Abe: analistas temem que, diante desses resultados, o governo do conservador Shinzo Abe deixe de lado seu projeto de aumentar o IVA, o imposto ao consumo (Toru Hanai/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de agosto de 2013 às 18h06.
O déficit comercial do Japão praticamente dobrou em um ano, devido ao peso da importação de energia, com a desvalorização do iene, que não foi compensado pelas exportações, anunciou o governo nesta segunda-feira.
O déficit comercial alcançou 1,024 trilhão de ienes (10,5 bilhões de dólares) em julho, quase o dobro do registrado no mesmo período de 2012 (528,5 bilhões de ienes).
Este é o 13º mês consecutivo de déficit do país, o período mais longo em 30 anos, anunciou o Ministério das Finanças.
O aumento de 12,2% das exportações em julho, graças à forte demanda dos Estados Unidos, China e Europa, na comparação com 2012, não foi suficiente para cobrir o déficit comercial.
"O déficit é muito maior que o esperado porque a fragilidade do iene encarece as importações de energia", explicou Hideki Matsumura, analista do Japan Research Institute.
"Mas os dados mostram que as exportações estão se recuperando graças à desvalorização do iene e à forte demanda do mercado americano", disse.
De acordo com o analista, o déficit deve diminuir com o aumento das exportações, que devem superar as importações graças, justamente, ao impacto do iene.
O iene desvalorizado contribui para aumentar o valor das exportações em moeda estrangeira no momento do câmbio para a divisa nacional, o que favorece grandes empresas exportadoras como Toyota e Sony.
O valor das exportações ao mercado americano aumentou 18,4% na comparação com o ano passado e 16,6% no caso da Eurozona.
As exportações para a China cresceram 9,5% após a disputa territorial entre Tóquio e Pequim, que retornou ano passado e afetou os laços comerciais dos dois gigantes asiáticos.
O iene se desvalorizou cerca de 20% em relação ao dólar desde o ano passado, contribuindo para melhorar a competitividade dos produtos japoneses no exterior e as receitas obtidas em divisas.
Contudo, o setor de energia do Japão também aumentou desde o fechamento dos reatores nucleares do país após a crise de Fukushima em março de 2011 e obrigou o país a utilizar combustíveis fósseis e comprá-los no exterior.
As altas temperaturas registradas neste verão aumentaram a demanda, disseram os analistas.
Na semana passada, as autoridades anunciaram que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) correspondente ao segundo trimestre da terceira maior economia mundial se situou em 0,6%, inferior ao esperado.
Esses dados mostram um panorama contraditório porque se por um lado, o consumo das famílias japonesas continua sendo robusto, por outro, a confiança das empresas não está em seu melhor momento, como demonstra a reticência a investir e a contratar pessoal.
O ritmo de crescimento na comparação anual do PIB também caiu passando de 3,8% no primeiro trimestre a 2,6% no segundo.
Os analistas temem que, diante desses resultados, o governo do conservador Shinzo Abe deixe de lado seu projeto de aumentar o IVA, o imposto ao consumo, até 10% para 2015, necessário para realizar seus planos de reduzir o déficit fiscal após a descontrolada dívida do país se elevar a 245% do PIB.
Os investidores ignoraram esses dados na segunda-feira na Bolsa de Tóquio, que fechou em alta do 0,79%, no final de um dia em que o iene se manteve estável frente ao dólar.