Economia

Década de crises reduziu poder de BCs contra ameaças como Coronavírus

Alerta veio poucas horas depois que dados sobre fábricas na Alemanha indicaram que a recessão industrial na maior economia da Europa está longe de terminar

Lagarde: mensagem da presidente do Banco Central Europeu foi direcionada aos governos, sinalizando que precisam intervir com apoio fiscal (Alex Kraus/Bloomberg)

Lagarde: mensagem da presidente do Banco Central Europeu foi direcionada aos governos, sinalizando que precisam intervir com apoio fiscal (Alex Kraus/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 9 de fevereiro de 2020 às 08h00.

Última atualização em 9 de fevereiro de 2020 às 09h00.

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, disse que uma década de combate à crise deixou os bancos centrais com poucas opções para mais estímulos monetários, justo quando surgem novas preocupações como o surto do coronavírus.

Lagarde disse que, embora a economia da zona do euro ainda se mostre “resiliente”, as ameaças globais podem minar a recente estabilização da atividade, e as incertezas permanecem elevadas.

O alerta veio poucas horas depois que dados mostraram uma enorme queda dos pedidos às fábricas na Alemanha, indicando que a recessão industrial na maior economia da Europa está longe de terminar.

Tendências econômicas fundamentais e “o legado da crise financeira reduziram as taxas de juros”, disse Lagarde ao Parlamento Europeu na quinta-feira. “Esse ambiente de baixas taxas de juros e baixa inflação reduziu significativamente o escopo para o BCE e outros bancos centrais em todo o mundo afrouxarem a política monetária diante de uma desaceleração econômica.”

A referência ao espaço “significativamente” reduzido foi mais forte do que a declaração do BCE no fim do mês passado, quando a instituição anunciou uma revisão estratégica para entender os motivos da inflação baixa e como enfrentá-la. E

Em parte, é um reconhecimento da crescente preocupação de que a política de afrouxamento monetário ameace a estabilidade financeira, pressionando as margens dos bancos e levando os preços dos ativos - como ações e imóveis - a níveis insustentáveis.

O vice-presidente do BCE, Luis De Guindos, disse em evento em Madri que os efeitos colaterais de políticas como juros negativos e flexibilização quantitativa estão se tornando “mais tangíveis”.

A mensagem de Lagarde também foi direcionada aos governos, sinalizando que precisam intervir com apoio fiscal.

“Indicamos claramente que, onde houver espaço fiscal, seria apropriado que os formuladores de políticas usassem esse espaço fiscal para apoiar a economia da zona do euro”, disse Lagarde, que não quis mencionar países específicos.

Lagarde disse que mudanças estruturais na economia global - envelhecimento da população e tendência de desaceleração do crescimento - significam que é o momento certo para o BCE iniciar sua revisão.

Embora a meta de inflação “abaixo, mas próxima de 2%” seja o foco principal, a presidente do BCE também disse que as mudanças climáticas, tecnologia e finanças afetarão os preços.

O surto de coronavírus se tornou a preocupação mais imediata para alguns bancos centrais.

Na quarta-feira, o Banco da Tailândia reduziu a taxa de juros para nível recorde, e o presidente do banco central das Filipinas deu a entender que um movimento semelhante era iminente no país. A Autoridade Monetária de Cingapura disse que há “espaço suficiente” para sua moeda se depreciar se o vírus enfraquecer a economia.

Lagarde disse na quarta-feira que o surto aumentou a incerteza econômica, opinião compartilhada pelo membro do Conselho Executivo do BCE, Philip Lane, economista-chefe da instituição. O antecessor de Lane, Peter Praet, disse à Bloomberg Television na quinta-feira que o BCE deve ser cauteloso para não tomar uma medida apressada.

(Com a colaboração de Catherine Bosley, Jana Randow, Anna Edwards, Jeannette Neumann, Piotr Skolimowski e William Horobin).

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralBCEChristine LagardeJuros

Mais de Economia

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto

Manifestantes se reúnem na Avenida Paulista contra escala 6x1