Bandeira da China: ambições das empresas de Putian divergem bastante da origem humilde da saúde na cidade (Mark Ralston/AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de setembro de 2015 às 18h37.
Durante anos, Lin Yuming viu gestantes sofrerem com filas e atrasos intermináveis nos hospitais públicos da China.
Vendo uma oportunidade de negócio, o empreendedor chinês da cidade de Putian, no sul do país, iniciou a construção de uma rede de hospitais para mulheres -- enfeitados com decoração rosa e pianos no saguão.
A Harmonicare Medical Holdings Ltd. de Lin, enfocada em obstetrícia e ginecologia, listou suas ações em Hong Kong em julho e está acelerando sua expansão.
Cerca de outras 15 empresas que administram hospitais privados a partir da cidade, que é vizinha de Taiwan, localizada do outro lado do estreito de mesmo nome, estão nas etapas iniciais de estudo para realização de ofertas públicas iniciais, diz a Associação da Indústria de Saúde de Putian, grupo que representa as empresas locais.
Antes conhecida principalmente por produzir tênis Adidas e Nike falsificados, Putian surgiu como base de um dos grupos mais influentes de investidores em saúde da China.
Buscando limitar os crescentes custos de saúde e reforçar um sistema público sobrecarregado, Pequim está incentivando o investimento privado.
A Frost Sullivan estima que a receita total dos hospitais privados da China triplicará até 2019, para US$ 90 bilhões.
À medida que esses empreendedores em início de carreira disputarem uma fatia maior do negócio, eles deverão enfrentar rivais internacionais, como o Brigham and Women’s Hospital, afiliado a Harvard, que também estão enxergando oportunidades na China.
As ambições das empresas de Putian divergem bastante da origem humilde da saúde na cidade. Nos anos 1980, os médicos da região ganhavam a vida tratando, por exemplo, doenças sexualmente transmissíveis e infecções de pele, que eram negligenciadas pelos hospitais públicos, disse Eric Chong, ex-vice-secretário-geral da Associação Chinesa dos Hospitais.
Alguns deles tinham uma formação limitada, disse ele, mas os pacientes continuavam chegando. Ao longo do tempo, as empresas locais se tornaram nacionais e se transformaram em hospitais credenciados que ofereciam de tudo, de cirurgias plásticas a tratamentos contra o câncer.
“A primeira geração talvez tenha vindo para ganhar a vida”, disse Lin, executivo do hospital, que é também vice-presidente do conselho da associação de saúde de Putian. “A segunda geração, como nós, construiu hospitais e fez carreira para resolver as deficiências dos serviços dos hospitais públicos”.
Apoio do governo
No ano passado, a Health News, uma publicação do governo, informou que representantes dos hospitais privados de Putian estimavam que mais de 60.000 habitantes de Putian estão no setor de saúde e administram mais de 8.000 hospitais em todo o país. De acordo com essa estimativa, eles controlariam mais de 70 por cento dos hospitais privados do país.
A demanda por saúde está aumentando na China devido à crescente incidência do diabetes, do câncer e de doenças cardíacas. Em algumas regiões do país, as famílias formam filas no raiar do dia para conseguir atendimento em hospitais públicos. O governo chinês disse em junho que apoiaria as vendas de ações e bonds para que os hospitais privados atraiam investidores.
Como muitos outros setores na China, o que começou com o sucesso de um indivíduo atraiu cada vez mais pessoas da mesma cidade. Sobrinhos e sobrinhas vieram na sequência, assim como tios, primos e amigos. Logo vilarejos inteiros perto de Putian se envolveram com o setor da saúde, disse Chong, o ex-representante da associação de hospitais.
Eles se ramificaram e começaram a operar departamentos individuais em hospitais públicos e militares, um passo em direção à prática médica formal. Depois que o governo reprimiu esse tipo de acordo de locação, mais médicos de Putian criaram hospitais independentes e contrataram médicos mais bem capacitados, segundo Chong.
Para concorrer com redes internacionais, os hospitais de Putian precisarão construir confiança entre os pacientes, disse Alexander Ng, associado principal da McKinsey Co. “Eles têm uma batalha difícil pela frente, porque mudar a percepção da marca não é uma tarefa fácil”, disse Ng.