Economia

Dar casa aos desabrigados: a solução mais simples (e barata)

Estados americanos têm mostrado que simplesmente dar casas aos sem-teto sem exigências dá certo e acaba saindo mais barato para o governo


	Sem-teto nos Estados Unidos: a maior economia do mundo tem desigualdade alta
 (Justin Sullivan/Getty Images)

Sem-teto nos Estados Unidos: a maior economia do mundo tem desigualdade alta (Justin Sullivan/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 16 de junho de 2015 às 17h32.

São Paulo - Santa Clara, na Califórnia, é um município de extremos. 

De um lado, a riqueza abundante do Vale do Silício e a sede de alguns dos maiores centros de inovação do mundo, como Apple e Google. Do outro, a maior proporção de desabrigados de todo os Estados Unidos.

Um novo estudo da organização Economic Roundtable, o maior já feito sobre o assunto no país, analisou os mais de 100 mil indivíduos que ficaram sem teto em algum momento nos últimos 6 anos e o que o governo fez para ajudá-los.

A conclusão é simples, mas surpreendente: o jeito mais barato e eficiente de combater o problema dos desabrigados é dando a eles uma casa para morar, sem condições prévias.

Como isso é possível? Para começar, porque entre abrigos, cuidado médico e encontros com a Justiça, cuidar dos sem-teto que ficam na rua acaba saindo bastante caro.

Por ano, o município gasta US$ 520 milhões com essa população - metade em serviços médicos, um terço em custos criminais e o resto em outros gastos sociais.

E o valor é bem concentrado: quase metade vai para cuidar de apenas 2.800 indivíduos, aqueles 5% que estão constantemente desabrigados. Cada um deles chega a custar até US$ 100 mil dólares por ano para os cofres públicos.

Solução

O estudo analisou os resultados de uma iniciativa da ONG Destination: Home, que forneceu casa para 400 pessoas monitoradas pelo estudo.

As 103 pessoas que costumavam consumir mais recursos quando estavam na rua (média anual de US$ 62 mil) agora moravam em uma casa de US$ 20 mil por ano - uma economia de US$ 42 mil anuais para o governo. 

"Muitos do grupo de custo mais alto tem problemas crônicos de saúde física e mental e se auto-medicam. Com uma casa, estas crises tem menos chance de acontecer, e eles recebem cuidados preventivos. Ter estabilidade e gerenciar problemas mais efetivamente reduz bastante os custos", diz Daniel Flaming, pesquisador-sênior e presidente da Economic Roundtable, para o Mother Jones.

A ideia de que receber uma casa seja ponto de partida e não de chegada, sem condições prévias como interromper o consumo de drogas, pode parecer cara e contraproducente.

Mas o que a experiência americana tem mostrado é o contrário: o mais difícil é quebrar o ciclo de abuso, pobreza e falta de perspectiva quando a pessoa ainda está na rua.

“Se você muda a pessoa para uma moradia permanente e com apoio primeiro, e daí a ajuda, parece funcionar melhor. É intuitivo, de certa forma. As pessoas se dão melhor quando tem estabilidade", diz Nan Roman, presidente da Aliança Nacional para a Falta de Moradia, para a New Yorker.

Experiências

Santa Clara não é a primeira região americana a abordar o problema dos sem-teto de forma inovadora. A ideia de dar moradia sem condições prévias teve bons resultado em experimento na cidade de Nova York já em 1992 e inspirou projetos em cidades como Seattle e Denver e países europeus.

No estado do Utah, um programa piloto em 2005 colocou 17 desabrigados em casas ao redor de Salt Lake City. Dois anos depois, nenhum havia voltado às ruas. 

Desde então, o programa "Moradia Primeiro" foi ampliado e apoiado pelas administrações federais - tanto de George W. Bush quanto de Barack Obama.

A moradia não sai de graça: os inquilinos tem que pagar US$ 50 por mês ou 30% da sua renda, o que for maior. Mesmo com o custo do monitoramento por agentes sociais, o programa faz o governo economizar dinheiro. 

O Utah conseguiu diminuir o número de sem-teto crônicos em 75% em uma década e em breve, o problema deve estar erradicado. 

Acompanhe tudo sobre:CalifórniaEstados Unidos (EUA)Países ricosServiço socialvale-do-silicio

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo