Quando um brasileiro se aposenta, ele mantém uma parcela maior do seu salário que um trabalhador americano ou alemão (Dado Galdieri / Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 27 de outubro de 2013 às 18h06.
São Paulo – Milhões de idosos brasileiros vivem mal, e muitos não se cansam de reclamar de suas aposentadorias, mas um levantamento do economista-chefe do Grupo Allianz, o alemão Michael Heise, aponta que os cidadãos que se aposentam aqui recebem, em média, 85,9% do que ganhavam quando estavam trabalhando. Nos Estados Unidos, esse número é de 42,3% (veja tabela comparativa abaixo).
A chamada taxa de substituição é ainda menor no Japão: 36,3%. Na prática, portanto, o trabalhador japonês que se aposenta recebe pouco mais de um terço de seu salário.
O estudo, cujos dados foram retirados do Panorama de Previdência da OCDE 2012, leva em conta não somente funcionários públicos e detentores de previdência privada, mas também os que só recebem pelo INSS.
Sob esse prisma, o Brasil estaria entre os países mais generosos na hora de conceder a aposentadoria.
Isso, claro, leva em consideração a renda da população, o que então deixa o país em desvantagem. O estudo menciona que a renda per capita da União Europeia hoje é de cerca de 30 mil dólares, enquanto a brasileira gira em torno de 10 mil.
Assim, um trabalhador americano ou europeu ganha mais em termos absolutos, o que faz toda a diferença no padrão de vida que ele consegue manter após a aposentadoria. Mas relativamente à riqueza que seu país produz, porém, ele leva menos.
País | Quanto mantém da renda após aposentadoria (%) | Gastos públicos com pensões em % do PIB (2010) | Projeção de gastos públicos com pensões em % do PIB (2050) |
---|---|---|---|
Brasil | 85,9 | 8,5 | 15,8 |
China | 82,5 | 2,2 | 2,6 |
Argentina | 81,1 | 5,9 | 8,6 |
Índia | 72,4 | 1,7 | 0,9 |
Rússia | 65,1 | 7,1 | 7,5 |
Suécia | 58,4 | 9,6 | 9,9 |
Coreia do Sul | 46,9 | 0,9 | 5,5 |
Estados Unidos | 42,3 | 4,6 | 4,8 |
Alemanha | 42 | 10,8 | 13 |
Japão | 36,3 | * | * |
União Europeia | 63,1 | 10,8 | 13,1 |
Brasil vai ter que enfrentar problema
Entre os países considerados, o Brasil é um dos que mais gasta com previdência hoje em porcentagem do PIB.
O principal problema do ponto de vista das contas do Estado, porém, é o futuro: mantido o sistema atual, o comprometimento dos gastos públicos com aposentadorias e pensões vai passar de 8,5% em 2010 para 15,8% até 2050, um patamar bem acima dos demais emergentes ou dos países da OCDE, grupo que reúne nações ricas.
O pior é que o Brasil vive hoje um processo de envelhecimento rápido da população, apontam especialistas, e o bônus demográfico nacional deve acabar sem que tenhamos nos tornado um país rico.
“O Brasil precisa enfrentar algumas verdades inconvenientes”, afirmou o economista Michael Heise, em fórum organizado pela Allianz para jornalistas em São Paulo na última semana.
“Enquanto países como Itália, Holanda e França levaram mais de 40 anos para ver a população com mais de 60 anos dobrar de 10% para 20%, o Brasil não terá esse tempo todo e ainda conservará níveis de renda de país médio quando isso acontecer”, afirmou o economista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Caetano, em fórum organizado pela Allianz para jornalistas na última semana, em São Paulo.
Segundo o estudo, o principal receituário que o Brasil tem para combater o problema – comuns a qualquer outro país, aliás – é aumentar a produtividade da economia - isto é, fazer mais com a força de trabalho que dispõe, para que ela possa dar conta dos inativos – e estender a idade mínima de aposentadoria, o que já foi e continua sendo feito por inúmeros países desenvolvidos.