Economia

Dá para conciliar igualdade nacional e internacional?

Dani Rodrik, um dos maiores especialistas em desenvolvimento do mundo, tem uma ideia para enriquecer o mundo sem aumentar a desigualdade

Planeta (sxc.hu)

Planeta (sxc.hu)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 28 de janeiro de 2017 às 08h00.

Última atualização em 29 de janeiro de 2017 às 13h36.

São Paulo - A desigualdade está aumentando ou diminuindo? Depende de para onde você olhar.

Nos últimos 25 anos, a diferença entre os mais ricos e os mais pobres subiu dentro da maioria dos países (a América Latina é exceção).

Ao mesmo tempo, centenas de milhões de pessoas, especialmente chineses e indianos, saíram da pobreza - que atingiu o menor patamar da história.

Ou seja: se você olhar para a distribuição de renda sem considerar as fronteiras nacionais, a desigualdade diminuiu. Uma coisa está necessariamente ligada à outra?

Esse é o tema do novo estudo do economista turco-americano Dani Rodrik, de Harvard, um dos maiores especialistas do mundo em desenvolvimento.

A primeira resposta seria dizer que sim, os dois fenômenos estão relacionados, já que ambos aconteceram em meio a uma intensificação da globalização.

A relação é clara com a China, um mercado gigantesco que se desenvolveu baseado em exportações, mas nem tanto com outros países. De qualquer forma, Rodrik nota que a pior parte desse choque já passou.

Primeiro porque a própria China já depende menos desse modelo e hoje está mais interessada em estimular o próprio consumo e focar em setores mais sofisticados.

E segundo porque dificilmente outros países conseguirão se industrializar com base em trabalho barato. As novas tecnologias permitem produzir mais usando menos trabalhadores e até os de renda média, como o Brasil, estão se desindustrializando rapidamente.

Mas o foco de Rodrik é nos impactos sociais do comércio. Ao contrário da maior parte dos economistas, ele não é partidário da ideia de que se abrir é sempre bom.

Ele aponta que o comércio não é o grande vilão mas causa perdedores claros, e que a resposta não é elevar tarifas.

Populistas como Trump querem "resolver um problema cirúrgico com um martelo", diz Rodrik em artigo publicado na semana passada pela revista Foreign Policy.

O que ele defende é uma visão própria de "comércio justo". Hoje, quando uma empresa americana transfere sua produção para Bangladesh, ela corta custos mas se beneficia de ambientes de trabalho mais perigosos e mais exploradores.

Isso eventualmente enfraquecerá os padrões dos Estados Unidos - o que ele chama de "dumping social".

Se os economistas realmente estivessem preocupados com ganhos de eficiência, deveriam focar em promover a mobilidade da força de trabalho, não de bens e capital, diz ele.

A produtividade de um trabalhador no Paquistão, por exemplo, é muito mais baixa do que a de um trabalhador americano.

Parte disso é por causa de fatores individuais, como educação, mas a maior parte pode ser colocada na conta do ambiente - infraestrutura, instituições políticas e sociais e outros.

Ou seja, o ganho de eficiência é brutal só de mudar o trabalhador de um lugar para o outro. Para evitar que os países pobres tenham toda sua força de trabalho drenada, sua volta seria garantida através de vistos temporários ou retenção de uma parte da renda até o retorno.

"O fosse de renda entre os ricos e os pobres globais e os ganhos potenciais na margem são tão grandes que você pode ter um viés nativista nas suas preferências e ainda assim ser a favor de relaxar as barreiras para a mobilidade global do trabalho", resume.

O difícil é convencer o público dos benefícios da imigração, que desperta questões de identidade nacional, medo e preconceito exploradas prontamente pelos políticos.

 

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