"É preciso encontrar o equilíbrio justo. Não se trata de branco ou preto, há muitas matizes de cinzas", disse o presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy (©AFP / Georges Gobet)
Da Redação
Publicado em 14 de março de 2013 às 19h25.
Espanha, França e Itália tentam frear, nesta quinta-feira, a austeridade estimulada pela Alemanha, durante uma reunião de dirigentes, marcada por protestos de milhares de manifestantes fartos de uma recessão e grande desemprego.
"É preciso encontrar o equilíbrio justo. Não se trata de branco ou preto, há muitas matizes de cinzas", disse o presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy, ao iniciar o Conselho que reúne em Bruxelas os 27 chefes de Estado e de Governo.
Pela primeira vez em meses, os dirigentes se reuniram sem temas imediatos para resolver na agenda e não devem tomar grandes decisões. No último momento, os ministros de Finanças da zona euro foram convocados em Bruxelas para decidir o resgate financeiro do Chipre, pendente há meses.
O desafio de encontrar um equilíbrio entre consolidação orçamentária e crescimento na Europa deve ser complicado. De um lado está o "bloco da austeridade" estimulada pela Alemanha, Finlândia, Áustria e Holanda e do outro estão os países que pedem mais flexibilidade e menos medidas de austeridade, liderado pela Espanha, França e Itália.
"É preciso flexibilidade se queremos que o crescimento seja prioridade", disse o presidente francês, François Hollande.
"Não se pode descartar um colapso social", alertou o primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker.
Os presidentes francês e do governo espanhol, Mariano Rajoy, pedem, pelo menos, uma flexibilização do calendário previsto para o cumprimento de seus objetivos fiscais. Os países mais atingidos pela crise da dívida esperam algumas compensações em troca dos cortes nos gastos que são exigidos para sanear suas contas públicas.
Contudo, o debate não sacudirá as bases da UE nem mudará a estratégia impulsionada por Bruxelas para sair da crise.
No rascunho das conclusões do Conselho Europeu, os dirigentes destacarão os benefícios que as reformas feitas pelos países europeus mais afetados pela crise da dívida, mas também tentarão reativar o crescimento, frente à recessão e aos "inaceitavelmente altos níveis de desemprego".
Bruxelas disse em várias ocasiões que entende a "frustração" dos cidadãos europeus diante dos nefastos resultados que eles veem como consequência das reformas.
Eles insistem, porém, que este é um processo que precisa de "seu tempo" e que os resultados não serão sentidos a curto prazo.
Vários especialistas alertam, contudo, que as medidas não surtirão os efeitos buscados, mas que, ao contrário, aprofundarão a recessão.
Cada vez mais pessoas protestam contra a austeridade diante de uma recessão que se prolonga e asfixia várias economias do bloco, entre elas Espanha, Itália, Grécia e Portugal.
Em Bruxelas, milhares de pessoas (15.000 segundo os organizadores e 10.000 segundo a polícia) se reuniram nesta quinta-feira próximo ao Conselho, vindas da Alemanha, França, Grã-Bretanha e Polônia. Entre elas 3.000 funcionários da empresa norte-americana Caterpillar, que recentemente anunciou 1.400 demissões na Bélgica.
"Habemus austeritate. É suficiente", disse Anne Demelenne, secretária geral do sindicato socialista belga FGTB.
Os dados são devastadores nos chamados países do sul onde os índices de pobreza elevados, assim como o desemprego, que prejudica os mais jovens.
A insatisfação com a austeridade se refletiu nas eleições da Itália, onde a população votou em dois candidatos completamente distintos entre si: o comediante Beppe Grillo e o magnata Silvio Berlusconi, mas ambos fizeram uma campanha de austeridade marcada pelas críticas contra Bruxelas.
A Itália, terceira economia da zona do euro, está imersa em um atoleiro político após as eleições legislativas. Contudo, Bruxelas está mais preocupada que o país cumpra o programa de reformas e ajustes com o qual se comprometeu para reduzir sua gigantesca dívida de 127% do PIB em 2012 (120,8% em 2011).
Uma fonte europeia admitiu que os resultados das eleições na Itália "fizeram muita gente refletir"
Caso haja um acordo, Chipre se somará à lista de países resgatados por seus homólogos europeus.
Uma fonte europeia, que pediu o anonimato, afirmou que a ideia é concluir a reunião do Eurogrupo de sexta-feira com um acordo. Apesar de admitir que a tarefa não deve "ser nada fácil".
Chipre pediu em junho a seus sócios europeus um resgate financeiro de 17 bilhões de euros, depois que seus dois principais bancos pediram ajuda ao governo. Desse total, 10 bilhões seriam a seu setor financeiro.
Apesar dos dados cada vez mais alarmantes, a cruzada da Alemanha a favor da austeridade não parará, sobretudo antes das eleições legislativas de setembro, quando a chanceler Angela Merkel disputará sua reeleição.