Na segunda, o Banco Central da Turquia anunciou que adotará "medidas necessárias" para evitar a desvalorização da lira turca, mas não dirimiu dúvidas crescentes sobre os riscos de contágio de países emergentes (Diego Giudice/Bloomberg)
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de agosto de 2018 às 08h32.
Última atualização em 14 de agosto de 2018 às 09h13.
Paris - A instabilidade financeira da Turquia voltou a assustar os mercados, na segunda-feira, 13, levando a mais um dia de valorização do dólar, principalmente, em relação às moedas emergentes. No Brasil, a moeda americana atingiu a cotação máxima de R$ 3,92 no início da tarde e fechou o dia em R$ 3,88, uma alta de 0,53%. Na Argentina, os reflexos foram mais graves. O dólar superou os 30 pesos. Para conter o derretimento da moeda, a autoridade monetária elevou o juro básico em cinco pontos porcentuais, para 45% - a maior taxa do mundo.
A escalada da tensão no mercado financeiro argentino ocorre também porque, nesta terça-feira, 14, vencem títulos do Banco Central que somam US$ 500 bilhões. Há uma preocupação com a possibilidade de não haver interesse na renovação da dívida, o que pode desvalorizar o peso argentino ainda mais.
Na segunda, o Banco Central da Turquia anunciou que adotará "todas as medidas necessárias" para evitar a desvalorização da lira turca, a moeda nacional, mas não dirimiu as dúvidas crescentes dos investidores sobre os riscos de contágio de países emergentes e da Europa em caso de agravamento da crise.
A principal preocupação de economistas e investidores europeus é com o nível de exposição de bancos do continente. Só as instituições financeiras das cinco maiores economias europeias - Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha - têm €171 bilhões investidos no país.
A lira é alvo de um ataque especulativo que tem ao mesmo tempo razões econômicas estruturais, como a forte inflação anualizada - de 16% em julho - e o déficit em contas correntes, além de problemas políticos conjunturais. O último deles é o confronto entre Donald Trump e Recep Tayyip Erdogan, que criou a principal causa de turbulência recente: o aumento das tarifas para importação de aço e alumínio do país por parte dos EUA, medida tomada em retaliação à prisão do pastor evangélico americano Andrew Brunson, preso pelo regime turco desde 2016, acusado de espionagem e terrorismo.
A decisão de Trump de dobrar as barreiras alfandegárias causou princípio de pânico no mercado de câmbio, quando a lira perdeu 16% de seu valor frente ao dólar. "A moeda da Turquia continua em rota de depreciação. Embora a deterioração das relações com os EUA tenha sido um catalisador, em muitos aspectos trata-se de uma crise monetária convencional e que já vem ocorrendo há algum tempo, culminando com a erosão da credibilidade política", disse o economista Michael Cahill, do Goldman Sachs.
Na segunda, para estancar a crise, a autoridade monetária prometeu dar "toda a liquidez necessária" aos bancos do país para tentar frear a desvalorização da moeda, que caiu 40% frente ao dólar e ao euro em 2018. Uma primeira medida foi reduzir as reservas obrigatórias dos bancos de forma a liberar liquidez ao sistema financeiro. O BC turco anunciou ainda que injetaria US$ 6 bilhões e mais o equivalente a US$ 3 bilhões em ouro nas instituições.
Mas as dúvidas continuam. "A redução das reservas obrigatórias permite colocar alguns bilhões no mercado, mas em relação ao déficit corrente da economia turca, da ordem de US$ 60 bilhões, é uma gota d'água no oceano", disse Deniz Akagul, professor de Economia da Universidade de Lille.
Em um ano, a lira perdeu 46% de seu valor frente ao euro, dos quais 24% nos últimos dias. Desde a crise financeira de 2001 a situação não era tão inquietante aos olhos de investidores europeus. O mercado financeiro teme os efeitos de uma eventual bancarrota dos bancos turcos sobre instituições europeias. Entre os bancos mais expostos estão o francês BNP Paribas, o italiano UniCredit e o espanhol BBVA. Só nas instituições espanholas, os empréstimos de bancos turcos somam US$ 80 bilhões.