Michel Temer: a crise agravada pela divulgação da conversa de Joesley e Temer não afetou a economia (Ueslei Marcelino / Reuters/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de junho de 2017 às 20h37.
São Paulo - O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Fábio Kanczuk, apresentou nesta terça-feira, 27, durante o Ethanol Summit que acontece em São Paulo um gráfico de riscos que mostra que a crise política agravada pela divulgação da gravação de conversa do empresário Joesley Batista com o presidente Temer não afetou a economia.
O gráfico produzido pela Secretaria de Política Econômica (SPE) mistura indicadores como dólar, juros longos, CDS e índice da bolsa de valores para mostrar se houve aumento do risco e contração financeira.
"A resposta é que não. Nos dias 18 e 19 de maio, teve aquele pico (do risco) e depois as condições voltaram ao normal. E o que a gente está vendo é que a crise foi praticamente insignificante em termos de retração financeira e sua transmissão sobre a economia também vai ser muito pequena", afirmou o secretário.
Kanczuk disse que o que a Fazenda está vendo na economia agora, com os dados nas mãos, é que o Produto Interno Bruto (PIB), depois da pior recessão que já teve no Brasil, está finalmente mostrando que o país está saindo da recessão.
Ele disse que o PIB no primeiro trimestre cresceu 1% em termos não anualizados e 4% anualizados.
"É um tremendo PIB, no segundo trimestre vai ser menor, alguma coisa próxima de zero, mas o fato é que a economia começou a andar", disse.
Kanczuk destacou que dentro do PIB o setor privado está se saindo melhor que o governo.
Nas duas crises, continuou ele, o setor privado sofreu mais e agora anda melhor que o governo, o que vai ser uma característica do Brasil daqui por diante.
"Esse é um ponto importante para ser destacado porque quem vai puxar o Brasil vai ser o setor privado", avaliou.
Kanczuk disse que há uma diferença entre incerteza política e incerteza de política econômica. Ele fez questão de separar os acontecimentos de curto prazo na política da agenda econômica de médio e longo prazo.
"A curtíssimo prazo, em particular sobre o evento da divulgação da fita em 17 de maio último,se vocês quiserem saber como estamos vendo a confusão política que está acontecendo, o Banco Central informa que há uma diferença entre incerteza política e incerteza de política econômica", disse o secretário.
De acordo com ele, em 2002, por exemplo, quando Lula estava sendo eleito, tinha uma questão de política e uma questão sobre qual ia ser a política econômica a ser implementada em 2003.
"O Lula falava de possível default na dívida, dívida estrutural e de mudar o fiscal... teve uma crise bastante grande, o risco subiu pra caramba e 12 meses depois o PIB que deveria crescer 3% passou a crescer só zero", lembrou Kanczuk.
Em 2005, disse ele, aconteceu uma coisa bem diferente.
"Teve o mensalão, uma crise política séria, houve até momentos em que o dólar andava bastante e depois voltava e quando a gente olha com os olhos de hoje, não aconteceu absolutamente nada. O PIB continuou andando no ritmo normal de 2,5% a 3%, a inflação desacelerava por um período", disse Kanczuk.
Para ele, essa crise política ou incerteza política que o Brasil vive agora é muito parecida com o segundo episódio, de 2005.
"Não há dúvida que está havendo um pouquinho de confusão política em Brasília. Agora, não há muito questionamento de qual é a política econômica que está acontecendo lá", disse, acrescentando que não há sombra de dúvida de que a equipe é superunida com todo mundo pensando da mesma forma.
"Seria uma burrada extrema tentar mudar essa equipe econômica, essa política econômica. Exatamente por isso, a reação do mercado tem sido muito pequena", disse.
De acordo com o secretário, para medir essa reação do mercado e tentar ver no que isso vai impactar a economia, tem que ver como foi o estresse do mercado de risco, se isso é transmitido para a confiança.
O que houve, de acordo com o secretário, foi uma contração no investimento muito parecida com o que aconteceu no início dessa crise do qual o Brasil está saindo agora.