Indicadores; planejamento; inflação; expectativas; economia (Divulgação/Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de julho de 2017 às 11h52.
São Paulo - O Brasil que os economistas viam no começo do ano não é mais o mesmo. Uma comparação entre previsões para 2017 divulgadas por bancos e consultorias em janeiro e fevereiro e as perspectivas mais recentes mostra que os desdobramentos da crise política que se abateu sobre o governo desde o anúncio da delação do empresário Joesley Batista, da JBS, em maio, devem cobrar caro da já tímida recuperação do País.
No embalo da crise política, Itaú e Bradesco jogaram para baixo, no mês passado, suas expectativas para a economia. "A situação econômica mudou", diz Fábio Salles, economista do Itaú. Das instituições ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo, o banco era o que tinha as expectativas mais otimistas, prevendo que o ano terminaria com alta de 1% do PIB. Agora, estima um crescimento de 0,3%.
"Não era otimismo em excesso. Quando prevíamos uma recuperação do País, sempre batíamos na tecla de que era importante fazer as reformas, as macro e as microeconômicas. O PIB teve aquela surpresa positiva no início do ano, com os resultados da agricultura, mas o nível de incerteza quanto ao rumo da economia levou a uma baixa das expectativas. Sem a garantia de que a reforma passe, o investidor deve ficar mais conservador", diz Salles.
Boa parte do cenário previsto pelos economistas no início do ano, de fato, se materializou: o dólar ficou estável, a inflação caiu e o Brasil caminha para uma Selic de um dígito. O que surpreendeu foi a dificuldade, até o momento, de aprovação da reforma da Previdência.
No início do ano, a previsão do mercado era de que a questão da Previdência estaria resolvida no terceiro trimestre. Julho chegou e o clima político deve paralisar o andamento da reforma no Congresso ou diluir muito a proposta original.
A análise é que como a crise política deve postergar a aprovação de uma reforma mais consistente para a Previdência, vai dificultar o ajuste fiscal, causando impacto na confiança de agentes econômicos, na retomada da economia, nos preços dos ativos e nas aplicações financeiras.
Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, disse que já havia uma pequena frustração de que a recuperação econômica não viria tão facilmente, mesmo antes da delação da JBS. "No momento de o País começar a colher os frutos do custo alto do ajuste, o cenário só ficou mais adverso. Os preços dos ativos ainda não refletem totalmente, mas o pessimismo aparece na expectativa do consumidor, da indústria e do comércio, o que acaba tendo impacto na retomada de investimentos. Assim, a capacidade de corte de gastos e cumprimento do teto começa a ser questionada. A economia tem dado sinais de recuperação, mas já poderia estar melhor."
As previsões do Ibre são de que o PIB do segundo trimestre seja negativo. "Para o resto do ano, o fator incerteza pesará mais, a economia deve ficar perto da estagnação. Todo mundo sabia que seria um ano difícil, mas a instabilidade surpreende. Saímos de uma recessão severa, vimos um pouco de luz e agora a economia deu uma engasgada."
Os analistas da XP não revisaram previsões após a delação da JBS. Para a consultoria, o PIB deve ficar entre zero e 0,5%. "Estamos mais perto de zero, mas o descolamento de economia e política deve se manter. Já não havia grandes expectativas de crescimento e o mercado está tranquilo. Claro, perdeu-se a chance de fazer uma reforma da Previdência de verdade", avalia a economista-chefe, Zeina Latif.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo