Número de japoneses trabalhando depois até e depois dos 70 anos tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. (Satoshi Takahashi/LightRocket/Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 5 de setembro de 2024 às 09h27.
Última atualização em 5 de setembro de 2024 às 10h44.
Cada vez mais, os japoneses estão adiando a aposentadoria e continuando a trabalhar até os 70 anos ou mais. Com uma das expectativas de vida mais altas do mundo — 81 anos para homens e 87 para mulheres — e uma pressão crescente sobre o sistema de pensões, muitos idosos no Japão se veem obrigados a continuar trabalhando para cobrir suas despesas. As informações são da Bloomberg.
Essa realidade reflete uma tendência que pode ser observada em outros países desenvolvidos, onde o envelhecimento da população e a longevidade trazem desafios crescentes para a sustentabilidade dos sistemas de previdência social. No Japão, entretanto, o problema é ainda mais grave devido ao já avançado envelhecimento da sua população.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cerca de 20% dos idosos japoneses vivem em condições de pobreza, um percentual significativamente superior à média da OCDE, que é de 14,2%. A pressão sobre o sistema de pensões do país, aliada à recente alta da inflação, faz com que muitos idosos sejam obrigados a complementar sua renda com trabalho. O aumento dos preços de bens de consumo e a crise no sistema de pensões são questões centrais no debate político no Japão. Com as eleições para o novo primeiro-ministro se aproximando, espera-se que os candidatos discutam propostas para aliviar o impacto econômico sobre a população idosa, que já sofre com os efeitos da inflação e da estagnação salarial.
Segundo dados oficiais, o valor médio das pensões no Japão é de ¥144.982 por mês (aproximadamente R$ 8.185), o que é insuficiente para cobrir as despesas de um lar com mais de uma pessoa, que gasta em média ¥276.000 (R$ 10.846) mensais. Comparativamente, o valor médio das pensões nos Estados Unidos é de US$ 1.907 (aproximadamente R$ 10.758), o que mostra que o Japão está muito atrás em termos de suporte financeiro aos seus aposentados.
Com o governo japonês enfrentando uma dívida pública que ultrapassa o tamanho da economia do país, soluções de longo prazo para garantir o sustento dos idosos ainda estão sendo debatidas. Entre as propostas discutidas está a extensão do período de contribuição para a previdência até os 65 anos, bem como incentivos para que as empresas mantenham trabalhadores idosos empregados.
Essa situação tem levado muitos japoneses a buscar alternativas financeiras para garantir uma aposentadoria mais segura. O aumento no interesse por investimentos e fundos de investimento no Japão tem sido notável, especialmente entre as gerações mais jovens, que já enxergam o cenário de incerteza na previdência como um problema futuro.
A realidade do mercado de trabalho japonês reflete a crescente participação de idosos na força de trabalho. O percentual de homens entre 65 e 69 anos que continuam empregados subiu de 29,8% há 20 anos para 43,3% em 2023, segundo dados da OCDE. Entre aqueles com idade entre 70 e 74 anos, o aumento também foi significativo. Esses números contrastam com a média de 17,3% nos países da OCDE.
No entanto, essa tendência não é motivada apenas pela necessidade financeira. Um estudo do governo japonês mostrou que cerca de 50% dos trabalhadores mais velhos continuam trabalhando por motivos que vão além da questão monetária, como o desejo de se manterem ativos, saudáveis e úteis à sociedade. Embora o governo tenha criado incentivos para que empresas contratem ou mantenham empregados idosos, muitos ainda enfrentam dificuldades financeiras, especialmente em meio à recente alta da inflação. Programas que incluem subsídios às empresas que empregam trabalhadores acima dos 65 anos fazem parte das estratégias do governo para lidar com o envelhecimento da população e o esgotamento dos recursos da previdência social.