Economia

Crise leva fundos árabes a avaliar ativos no Brasil

Segundo fontes, um dos alvos da investida árabe é o Frigorífico Minerva, segundo maior exportador de carne bovina do País


	Frigorífico Minerva: segundo fontes, um dos alvos da investida árabe é o Frigorífico Minerva
 (Divulgação)

Frigorífico Minerva: segundo fontes, um dos alvos da investida árabe é o Frigorífico Minerva (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2015 às 09h08.

Dubai - Conhecidos pela fama de cautelosos por seus pares, fundos árabes de investimentos se lançaram, nos últimos meses, em uma ofensiva para avaliar negócios no Brasil.

Com a desvalorização do real frente ao dólar e o maior número de ativos mais baratos no País, reflexo direto da crise econômica, esses fundos se encorajaram a prospectar aquisições por aqui, sobretudo, em empresas ligadas a agronegócios, mercado imobiliário e logística.

Segundo fontes, um dos alvos da investida árabe é o Frigorífico Minerva. Segundo maior exportador de carne bovina do País, o frigorífico despertou o interesse da Saudi Agricultural and Livestock Investment (Salic), gestora fundada pelo rei da Arábia Saudita para investir especificamente em agricultura.

A empresa saudita busca negócios no País na tentativa de garantir a segurança alimentar a uma região marcada pelas dificuldades na produção agrícola, em função da escassez de água.

Procurado, o Minerva não comenta o assunto, mas fontes afirmam que o frigorífico, que está altamente endividado, busca sócios e negocia a entrada de um investidor.

Menos agressivos que os tradicionais fundos de private equity (que compram participação em empresas para vender depois com lucro), boa parte desses fundos árabes - soberanos (do governo) ou de famílias reais - costuma agir como co-investidor, tem um tíquete alto para compra (que pode variar de US$ 200 milhões a US$ 500 milhões) e pensam a longo prazo.

Tradicionalmente, costumam se aliar a outros fundos globais ou locais para aportes em projetos prontos, sem grandes riscos. É o caso do fundo soberano do Catar, o Qatar Investment Authority (QIA), que investiu na Abril Educação (hoje Somos Educação), com o fundo Tarpon, um dos acionistas da empresa de alimentos BRF.

Em busca de negócios mais resilientes e com valorização no futuro, o fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, o Abu Dabi Investment Authority (Adia) tem prospectado ativos no mercado imobiliário.

No mês passado, o Adia anunciou associação com a Iron House, do grupo pernambucano Cornélio Brennand, para construir o primeiro hotel da rede canadense Four Seasons.

"O fundo tem investimentos em empresas brasileiras e uma equipe interna de gestores com foco na América Latina. O Brasil tem uma parte considerável dessa carteira", garante uma fonte próxima ao Adia. Outras fontes afirmam que o fundo está à procura de imóveis sobretudo no eixo São Paulo-Rio.

Nem um histórico conturbado no País fez outro fundo soberano, o Mubadala, também de Abu Dabi, perder o apetite pelo Brasil. Um dos maiores investidores do império X, o fundo chegou a fazer um aporte de US$ 2 bilhões no grupo. Depois da derrocada das empresas criadas por Eike Batista, o Mubadala decidiu reverter o jogo.

O fundo converteu sua dívida em participação nos negócios de Eike e passou a deter ativos como a mineradora de ouro AUX, a empresa de entretenimento IMX, dona da marca Rock in Rio, e participação na Prumo Logística (antiga LLX). Em parceria com a trading Trafigura, o Mubadala tem hoje 65% do Porto do Açu.

Agora, o interesse do fundo soberano teria se voltado para o terminal de contêineres Tecon Sepetiba, que pertence à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do empresário brasileiro Benjamin Steinbruch.

Avaliado em cerca de R$ 1 bilhão, o Tecon tem vários interessados e a transação poderá ser definida ainda este ano. A CSN e o Mubadala não comentam.

Cartilha

As tomadas de decisões não costumam ser rápidas. Antes de fechar um negócio, eles seguem uma cartilha da lei islâmica - conhecida como Sharia.

Por esse conceito, seus investimentos não podem, por exemplo, estar atrelados a empresas que fornecem bens ou serviços considerados contrários aos princípios islâmicos.

"Há limites e regras claras. Por isso, esses investidores buscam negócios ligados ao agronegócio, sustentabilidade, logística", afirmou Aldo De Cresci, sócio do Gasparini, De Cresci e Nogueira de Lima Advogados.

"Atividade financeira que gera lucro por mecanismos puramente de natureza especulativa é vetada." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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