As siderúrgicas da região não descartam medidas protecionistas para ajudar o setor (Alexandre SantAnna/Veja Rio)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2011 às 17h31.
Rio de Janeiro - Pressionada pela redução da demanda externa de aço - provocada principalmente pela crise da dívida dos países desenvolvidos e pela concorrência do aço chinês - a indústria latino-americana aguarda medidas protecionistas para 2012 e espera pulverizar sua exportação para novas economias incipientes, como África e sudeste asiático.
Segundo especialistas do setor, a forte concorrência chinesa tem gerado aumento do volume de importações de aço vindo desse país na América Latina, o que tem trazido fortes prejuízos para a indústria local e gerado cautela para o setor em 2012.
De acordo com a Associação Latino-Americana de Aço (Alacero, ex- Ilafa), países como Chile e Colômbia devem aumentar sua importação de aço em respectivos 34% e 24% em 2012 em relação a 2011, contrastando com uma exportação em queda de 26% no caso de Chile e em alta de apenas 8% no caso da Colômbia.
O Brasil, maior economia da América Latina, fechou o ano de 2010 com superávit de 2 milhões de toneladas no balanço das importações e exportações de aço. Já em 2011, o resultado final projetado é um déficit de 2 milhões de toneladas, ou seja, uma diferença de 4 milhões em um ano, diz a Alacero.
Segundo o relatório da Alacero, feito em quatro países latino-americanos - Brasil, Argentina, Colômbia e México -, o aumento das importações tem gerado o fenômeno da desindustrialização na região.
"O câmbio é um fator importante nesse processo, mas no caso do Brasil a situação é ainda mais grave, pois existe uma guerra fiscal entre os estados, que é o fator mais danoso neste momento para a produção local", disse o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, durante o 52º Congresso da Alacero (ex- Ilafa), realizado no Rio de Janeiro
Segundo a Alacero, a forte concorrência da China, favorecida por sua moeda artificialmente desvalorizada, torna mais atraente a importação do aço do que a compra da indústria local, o que têm prejudicado fortemente as fábricas.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, não descarta a possibilidade de o Brasil tomar medidas de proteção para se proteger do aumento das importações.
"Enquanto não for feita uma mudança nos padrões de troca, nós, países emergentes, precisaremos de uma proteção cambial", disse Pimentel, que também participou do congresso sobre aço no Rio de Janeiro.
Segundo o ministro, seria justo que os países tivessem o direito de aplicar tarifas às importações equivalente à desvalorização da moeda do país de origem, numa clara alusão à desvalorização artificial provocada pela China à sua moeda, o yuan.
"Esse sistema de defesa poderia ser coordenado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) ou por um conjunto de instituições financeiras internacionais, e não pela OMC", sugeriu Pimentel.
Preocupado com a retração da atividade na Europa devido à crise financeira e econômica que atinge o continente, o governo de Dilma Rousseff concluiu que não poderá contar com os países da União Europeia para manter o crescimento das exportações brasileiras no ano que vem.
Com isso, a Presidência decidiu estudar alternativas para redirecionar os produtos que são geralmente direcionados ao mercado europeu, informou o governo. Um dos portos de escoamento cogitados tem sido a África, que é para o onde o ministro Pimentel se dirigirá nos próximos dias.
"A África, principalmente a África do Sul, passa por um forte processo de aquecimento do setor de construção, tradicional consumidor do aço, e seria uma boa válvula de direcionamento da produção brasileira", disse o consultor financeiro Marcos Crivelaro.
Para ele, essa pulverização dos mercados é a melhor alternativa em tempos de crise europeia, antigo grande consumidor do aço brasileiro.
"Espera-se que haja também um amento do consumo dentro da própria América do Sul, principalmente através da produção de veículos e do setor de construção", diz. "O sudeste asiático e a Austrália também podem oferecer boas alternativas de demanda", concluiu.