Economia

Crise argentina se agrava, juro vai a 60%, e BC brasileiro age

Na quinta-feira, quando a moeda argentina registrou nova mínima histórica, BC do país elevou em 15 pontos porcentuais a taxa de juros

Mauricio Macri: presidente argentino chegou ao poder no fim de 2015 aclamado pelo mercado financeiro. (Marcos Brindicci/Reuters)

Mauricio Macri: presidente argentino chegou ao poder no fim de 2015 aclamado pelo mercado financeiro. (Marcos Brindicci/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de agosto de 2018 às 07h29.

- A escalada global do dólar, acompanhada de erros na condução da política econômica, começa a colocar em risco o crescimento econômico do governo argentino de Mauricio Macri, presidente que chegou ao poder no fim de 2015 aclamado pelo mercado financeiro. Na quinta-feira, 30, quando a moeda argentina registrou nova mínima histórica, o Banco Central do país elevou em 15 pontos porcentuais a taxa de juros - que já era a mais alta do mundo -, para 60%. No Brasil, o BC também precisou agir, colocando US$ 1,5 bilhão no mercado.

Na Argentina, o BC ofereceu US$ 500 milhões, fazendo com que o dólar recuasse um pouco. A moeda americana encerrou o dia cotada a 38,20 pesos, com alta de 11%. Desde abril, na tentativa de conter o dólar, a autoridade monetária elevou a taxa básica de juros em 32,5 pontos porcentuais. A Casa Rosada também agiu nos últimos meses: pediu socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e trocou parte de sua equipe econômica. As medidas, porém, não foram capazes de gerar confiança em um país onde grande parte da população tem o costume de desconfiar da moeda local e recorrer ao dólar para poupar.

Com o juros a 60%, a tendência é que famílias e empresas relutem a tomar empréstimos, travando a economia argentina. O economista Alejo Costa, do BTG Pactual na Argentina, já fala de retração de 2% no PIB neste ano e inflação de 45%. Para 2019, último ano de Macri na Casa Rosada, sua projeção é de 0% para o PIB.

"O período Macri vai acabar estancado (na comparação com o início do governo)", diz Martín Redrado, presidente do Banco Central da Argentina entre 2004 e 2010. Para ele, Macri errou ao achar que poderia controlar as expectativas de inflação com a taxa de juros, já que o país tem um pequeno mercado creditício.

Na avaliação do economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, o problema foi a tentativa de reduzir o déficit fiscal de modo gradual, o que fez com que o país continuasse dependendo de financiamento internacional. "Essa estratégia se esgotou e hoje as saídas para o problema são menores", diz. Segundo Ramos, agora é preciso fazer um ajuste fiscal rápido, zerando o déficit em 2019 - a meta era que ele ficasse em 1,3% do PIB no próximo ano.

Secretário de Finanças da Argentina entre 2002 e 2005, o economista Guillermo Nielsen aponta como erro o afrouxamento da meta da inflação anunciado em dezembro de 2017, quando o alvo passou de 10% para 15%, em um indicativo de que segurar preços já não era prioridade do governo. Também houve falhas na comunicação, diz. Na quarta-feira, 29, por exemplo, Macri anunciou que havia pedido uma antecipação do empréstimo do FMI, mas não deu detalhes.

Brasil

A recessão na Argentina deve prejudicar a indústria brasileira, sobretudo a automotiva. A consultoria Abeceb projeta que a demanda por carros no país vizinho caia 5% neste ano. Hoje, 60% dos veículos vendidos na Argentina são fabricados no Brasil. Há ainda o risco de um efeito dominó na taxa de câmbio dos emergentes. "Vai contagiar principalmente os países com déficit fiscal e de conta corrente", diz Redrado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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