São Paulo - A África Subsaariana terá em 2016 seu pior crescimento econômico em duas décadas, de acordo com diagnóstico recente do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A taxa esperada é de meros 1,4%, menos da metade dos 3,5% de 2015 e distante dos 5% registrados entre 2010 e 2014.
Uma previsão parecida havia sido feita no final de setembro pelo Banco Mundial.
A queda não é generalizada. Em 19 dos 45 países da região o crescimento segue robusto: Etiópia, Senegal e Tanzânia são alguns exemplos.
Mas muitos outros seguem afetados por fatores como a queda dos preços de commodities, fatal para quem depende de exportar esses produtos (como o próprio Brasil).
O petróleo, por exemplo, perdeu metade do seu valor nos últimos dois anos e derrubou junto com ele grandes produtores como Angola, que tira do produto 95% das suas exportações e metade da receita do governo.
Outro é a Nigéria, que dependendo da conta é a maior economia do continente africano. Após crescer a taxas chinesas no começo do século, ela enfrenta agora sua primeira recessão em mais de 20 anos.
Diante do cenário, a palavra de ordem é ajustar (para não perder o controle das contas) e diversificar (para não depender demais de um produto só).
"Para os países impactados pelos baixos preços de commodities, o ajuste é inevitável dada a escala e a natureza persistente do choque. As opções aqui são entre processos de ajuste ordenados ou desordenados", disse Abebe Aemro Selassie, diretor do Departamento Africano do FMI.
Mas o continente também sofre com o aperto nas condições financeiras internacionais, que derrubou as moedas de países emergentes, e a incerteza política.
A África do Sul é um bom exemplo. No final do ano passado, o país chegou a ter três ministros de Finanças diferentes no espaço da uma semana (e o atual está sob investigação).
“Nossa análise mostra que os países com resultado mais resiliente tendem a ser aqueles com políticas macroeconômicas mais fortes, melhor ambiente regulatório de negócios, uma estrutura mais diversa de exportações e instituições mais efetivas", resume Albert Zeufack, economista chefe do Banco Mundial para África.
E não há lugar onde o crescimento seja mais essencial do que lá. Quase todos os países mais pobres do mundo estão na África e muitos não chegam a ter nem mil dólares em PIB per capita por ano em paridade de poder de compra.
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1. Fronteiras
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1/6 (Johnny Miller)
São Paulo - Os mapas de uma cidade podem ser uma das provas mais claras da desigualdade entre seus cidadãos. Na
África do Sul, as divisões urbanas foram estabelecidas com um objetivo explícito: isolar uma maioria negra na periferia reservando o centro para os brancos no poder. O apartheid oficial foi de 1948 a 1994, mas suas cicatrizes no tecido urbano permanecem até hoje, como mostram fotos feitas com um drone pelo americano Johnny Miller na Cidade do Cabo (
há vídeos em seu canal no YouTube). Ele começou a morar lá em 2011 para fazer um mestrado em antropologia e acabou ficando. Apesar de num primeiro momento o clima geral parecer mais relaxado do que no resto do país, isso esconde divisões brutais.
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2/6 (Johnny Miller)
Miller explica: "A Cidade do Cabo é definitivamente mais relaxada do que outros centros urbanos sul-africanos no sentido de que o núcleo central é muito mais seguro. Você não vê tantos condomínios fechados e as coisas parecem mais abertas e seguras (a montanha e as praias também contribuem). A cidade tem a reputação de ser onde se curte mais do que se trabalha, e seu apelido em Afrikaans é “Slaapstad” (Cidade Dorminhoca). A realidade é que esse sentimento relaxante está confinado aos bairros ricos da península. Cape Flats, para onde os negros foram movidos (e ainda moram), é um dos lugares mais violentos do país. Há enormes assentamentos informais e muitas vezes não há serviços básicos. Duvido que essas pessoas iriam se referir a suas vidas como 'relaxadas'."
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3/6 (Johnny Miller)
A África do Sul, que já foi a maior economia do continente africano,
hoje está no terceiro lugar (atrás de Nigéria e Egito) mas oferece muitas vantagens em termos de infraestrutura, diversificação, democracia e inflação controlada. No entanto, nunca conseguiu abalar os pilares de desigualde estabelecidos pelo apartheid: seu índice de Gini é 0,63, um dos mais altos do mundo (a medida vai de 0 a 1 - quanto mais alto, mais desigual). O Brasil conseguiu certo progresso nessa medida desde o começo do século, mas a África do Sul ficou estacionada mesmo com surtos de crescimento rápido e melhora do bem-estar. "Somos uma economia caracterizada por uma trajetória de crescimento intensiva em capital e em habilidades, o que não gera um número suficiente de empregos de baixa remuneração, essenciais para reduzir o desemprego e a desigualdade", diz Haroon Bhorat, professor de Economia na Universidade da Cidade do Cabo, em
entrevista para o Mail & Guardian.
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4/6 (Johnny Miller)
As fotos de Miller certamente tocaram em uma ferida nacional, como mostram os comentários no
post sobre a série em seu site oficial: "Esse não é um estudo para enriquecer o conhecimento e sim para criar animosidade entre os que têm e os que não têm. Trabalho duro para ter, e sinto pelos que não tem por causa de circunstâncias infelizes. Mas se a maioria daqueles que não têm levantassem a bunda e trabalhassem, talvez eles também pudessem morar do outro lado da cerca", diz Manny Ferraz. "É impressionante que você encontre reações tão óbvias de quem acha que o único contexto é trabalhar duro e conseguir suas propriedades sem conseguir abrir a cabeça para o fato de que as desigualdades expostas nessas fotos falam dos efeitos estruturais de um sistema legislado para manter certas pessoas fora e longe daqueles privilegiados", diz Onkgopotse Jita.
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5/6 (Johnny Miller)
Miller comenta a reação: "Acho que há muito medo nesse país. Do lado dos privilegiados, o medo é que suas propriedades e seu meio de vida serão levados. Você viu isso em outros países africanos e vários sul-africanos de destaque defenderam isso aqui. É assustador trabalhar sua vida inteira, acumular riqueza, propriedade e família e não ter certezas sobre o futuro. Já as pessoas que tinham uma cor diferente dos brancos foram sistematicamente reprimidas desde que os europeus chegaram na África. Acho que havia muito júbilo em 1994 de que as coisas finalmente mudariam, e essa mudança veio lentamente de várias formas. Então essas pessoas têm medo de que nunca sairão dessa situação. Eu não levo nenhum dos comentários para o pessoal e acredito que a maioria deles é gerado pelo medo que eu descrevi. E medo pode ser modificado. Podemos trabalhar através do medo. E a maior solução para isso é a informação".
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6/6 (David Leventi/Anna Skladmann/Gabriele Galimberti & Paolo Woods)