Economia

Covid-19 piora mercado de trabalho para quem tem mais de 50 anos

Enquanto as contratações de jovens abaixo de 25 anos até superaram levemente a média, as vagas para os mais velhos não estão abrindo no mesmo ritmo

Caged: os desligamentos dos mais velhos estão voltando mais rapidamente à tendência histórica do que as dispensas de mais jovens (Amanda Perobelli/Reuters)

Caged: os desligamentos dos mais velhos estão voltando mais rapidamente à tendência histórica do que as dispensas de mais jovens (Amanda Perobelli/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 25 de novembro de 2020 às 09h40.

A covid-19 tornou o mercado de trabalho ainda mais avesso a trabalhadores acima de 50 anos, parcela que inclui o "grupo de risco" para a doença. Se antes da pandemia esse grupo já tinha dificuldades para se colocar profissionalmente, agora com a crise teve de lidar com a redução da oferta de novas vagas e o aumento de demissões.

Em setembro passado, segundo dados do Caged (que retrata o mercado formal de trabalho), as admissões somaram 1,379 milhão no País e ficaram muito próximo da média observada para o mês entre 2012 e 2019 (1,4 milhão). Mas o comportamento é distinto entre as faixas etárias.

Enquanto as contratações de jovens abaixo de 25 anos até superaram levemente a média, as vagas para os mais velhos não estão abrindo no mesmo ritmo. As admissões de pessoas com mais de 60 anos está em torno de 70% da média para meses de setembro, considerando o período entre 2012 e 2019.

Já nas demissões, ocorre o inverso. Embora o Caged costume ter saldos sempre negativos para as faixas etárias mais avançadas - devido à saída para a informalidade ou a aposentadoria -, os desligamentos dos mais velhos estão voltando mais rapidamente à tendência histórica do que as dispensas de mais jovens, que está bem abaixo da média observada para setembro nos últimos anos.

A plataforma Maturi, que atua como intermediadora entre empresas e profissionais de 50 anos ou mais, registrou uma queda de 80% na busca por trabalhadores em março e abril, no auge da pandemia. Em agosto e setembro, a procura aumentou 30% em relação a abril, enquanto em outubro a alta chegou a 60% na comparação com o momento mais crítico no ano.

Mesmo assim, as buscas ainda estão 30% abaixo do registrado em igual período de 2019, conta o CEO da Maturi, Mórris Litvak. A empresa também passou a ser mais procurada para conduzir demissões.

Desculpa

"O preconceito com os mais velhos acabou se intensificando na pandemia. É algo que já existia bem forte no mercado de trabalho e agora tem essa 'desculpa' de as pessoas serem teoricamente grupo de risco, e eu digo teoricamente porque não é todo mundo que tem 50, 60 anos que é grupo de risco. Muito mais que a idade depende da condição de saúde", afirma.

Em maio, a plataforma fez uma pesquisa com 4.052 usuários e descobriu que 39,2% consideraram que a denominação "grupo de risco" resultou em maior preconceito na busca por uma vaga.

Em Brasília, uma menina de apenas 13 anos escreveu uma carta a empresas de limpeza urbana pedindo emprego para o pai, de 63 anos, que está desempregado. O caso foi noticiado pelo portal Metrópoles. Uma das companhias, a Sustentare, respondeu ao veículo que o trabalhador já havia integrado o quadro de funcionários da empresa, mas, devido à pandemia, foi necessário demiti-lo.

Ela também informou ao Metrópoles que "a recontratação de pessoas do grupo de risco vai ocorrer após a aprovação da vacina contra a covid-19".

Procurada novamente pelo Estadão, a Sustentare modulou o discurso. "A empresa recebe normalmente os currículos de todos aqueles que pretendem uma posição na empresa e, no momento oportuno, as contratações serão feitas conforme a necessidade operacional", disse em nota.

Em setembro, o Ministério Público do Trabalho (MPT) emitiu uma nota técnica ressaltando a importância de garantir igualdade de oportunidades e alertando que a dispensa discriminatória, inclusive por idade, é vedada por convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) ratificada pelo governo brasileiro.

O órgão não possui números consolidados sobre o tema dos idosos na pandemia.

Acompanhe tudo sobre:CagedCoronavírusMercado de trabalho

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto