Bolsonaro: presidente comenta privatização dos Correios (Ueslei Marcelino/Reuters)
Reuters
Publicado em 20 de fevereiro de 2020 às 13h24.
Última atualização em 20 de fevereiro de 2020 às 13h27.
Brasília — Os Correios caminham para a privatização, disse nesta quinta-feira o presidente Jair Bolsonaro, que também afirmou que a reforma administrativa, que ainda não foi encaminhada pelo governo ao Congresso, está "madura".
"Algumas instituições não serão privatizadas enquanto eu for presidente, mas os Correios caminham para a privatização. Até porque, foram foco no passado de grandes escândalos e também é um monopólio que não pode ter prejuízo", disse Bolsonaro em discurso durante evento no Palácio do Planalto de lançamento de crédito imobiliário com taxa fixa pela Caixa Econômica Federal.
O presidente também aproveitou a oportunidade para fazer elogios ao ministro da Economia, Paulo Guedes. O ministro tem pressionado pelo envio da reforma administrativa ao Legislativo, por considerá-la essencial para a recuperação da economia, mas uma fonte com conhecimento do assunto disse à Reuters que o encaminhamento da proposta, previsto para esta semana, foi adiado.
"Vamos mudando, fazendo o possível, com muita humildade, conversando com todos antes de decisões. Como, Paulo Guedes, a questão da reforma administrativa. Está madura agora. Não podemos apresentar uma reforma e depois nós mesmos buscar deputados e senadores para que ela venha a ser corrigida", afirmou o presidente.
Bolsonaro fez, então, um afago ao ministro ao fazer uma referência ao episódio em que ele foi criticado por afirmar que o dólar mais baixo permitia que empregadas domésticas viajassem à Disney.
"Já que o Paulo Guedes falou de pessoas humildes. Obviamente, Paulo, só é criticado quem tem virtudes. Ninguém critica o perna-de-pau que está acostumado a perder gols, critica o craque que perde o pênalti. Ou até mesmo quando ele faz o gol e não é muito bem batido", afirmou.
Bolsonaro afirmou que de nada adianta o governo enviar a matéria e depois ter que pedir modificações no texto aos parlamentares.
Antes, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que Bolsonaro "está dando uma olhada na reforma administrativa" e que o governo vai fazer "umas mexidas (no texto) que são corretas".
Guedes também disse que é "normal" Bolsonaro pedir modificações em trechos que não considera corretos.
O ministro citou como exemplo a possível exigência de que os funcionários públicos não tenham filiação partidária.
Divergências
Guedes aproveitou as recentes divergências entre o governo e o Congresso para defender a aprovação das reformas e do Novo Pacto Federativo. Segundo ele, é preciso "transformar um aparente desentendimento" em algo construtivo.
Durante cerimônia de lançamento da nova linha de crédito imobiliário da Caixa, o ministro da Economia passou uma série de recados ao Legislativo. Guedes falou que "pode haver exagero de um lado ou outro", que "todo mundo fica nervoso" ao discutir questões orçamentárias, mas que não vale a pena brigar por cerca de R$ 10 bilhões quando há possibilidade do pacto federativo dar mais autonomia para Estados e municípios.
Guedes destacou que as reformas "têm várias dimensões" e que a classe política também está convidada para entrar nas discussões sobre pacto federativo. "Façamos as reformas e aí teremos 100% do orçamento para discutir e construir juntos", declarou.
Esta semana, ao reclamar da suposta "chantagem" que o presidente Jair Bolsonaro sofre do Parlamento, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, acabou expondo o descontentamento de deputados e senadores com Guedes.
Na avaliação da cúpula do Congresso, Heleno e Guedes são hoje os novos integrantes da "ala ideológica" do governo e insuflam Bolsonaro contra os parlamentares.
"Esse empurra-empurra (entre governo e Congresso sobre o orçamento) é normal", minimizou Guedes.
Em linha de raciocínio semelhante ao que diz Heleno, Guedes falou que se o orçamento impositivo for grande demais, fica parecendo que o País está em um "parlamentarismo branco", mas que o outro extremo também não é satisfatório para o Congresso.
Guedes afirmou, ainda, que é preciso respeitar quem ganhou a eleição. "Espera três anos e tenta de volta", declarou.