Economia

Coronavírus coloca em risco promessas da China em acordo com EUA

Assinado há pouco mais de duas semanas, acordo marcou um alívio das tensões entre as duas maiores economias do mundo que dominaram a guerra comercial

Vista de Xangai: até agora, 15 países foram afetados pelo novo vírus (Qilai Shen/Bloomberg)

Vista de Xangai: até agora, 15 países foram afetados pelo novo vírus (Qilai Shen/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 31 de janeiro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 31 de janeiro de 2020 às 07h00.

As promessas da China na fase 1 do acordo comercial, de aumentar as compras dos Estados Unidos e que especialistas já consideravam irrealistas, serão ainda mais difícil cumprir com o surto do novo vírus, que afeta a demanda e interfere nas cadeias de suprimentos.

No primeiro ano do acordo, que entra em vigor em meados de fevereiro, a China se comprometeu em comprar US$ 76,7 bilhões em produtos dos EUA, além do que comprou em 2017, e US$ 123,3 bilhões no segundo ano. O acordo, assinado há pouco mais de duas semanas, marcou um alívio das tensões entre as duas maiores economias do mundo que dominaram a guerra comercial.

Com a propagação do novo coronavírus, a atenção se concentra em uma parte do acordo segundo a qual os EUA e a China farão uma avaliação “no caso de um desastre natural ou outro evento imprevisível” impedir qualquer país de cumprir o acordo no prazo.

“Obviamente, haverá algumas ramificações em toda a economia, que esperamos não inibirão a meta de compra que temos para este ano”, disse o secretário de Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, na quarta-feira. “Teremos que esperar. Mas a resposta honesta é que ainda não sabemos. Mas esperamos uma conclusão muito rápida.”

O vírus poderia trazer empregos de volta para os EUA, disse o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross.

“Bem, primeiro de tudo, os corações de todos americanos estão com as vítimas do coronavírus”, disse Ross durante entrevista à Fox Business Network na quinta-feira. “Não quero falar sobre uma volta da vitória sobre uma doença muito infeliz e muito maligna. Mas o fato é que isso dá às empresas outra coisa para considerar quando analisam sua cadeia de suprimentos, além de todas as outras coisas.”

“Acho que ajudará a acelerar o retorno de empregos para a América do Norte. Alguns para os EUA. Provavelmente alguns para o México também.”

A crise do coronavírus atingiu os mercados financeiros e de commodities nos últimos dias.

Aumento substancial: para cumprir promessas, importações chinesas vindas dos EUA teriam que saltar

Aumento substancial: para cumprir promessas, importações chinesas vindas dos EUA teriam que saltar (Bloomberg/Bloomberg)

O yuan atingiu o nível de 7 por dólar na quinta-feira, rompendo o limite pela primeira vez este ano. O spread entre os rendimentos dos títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA e as taxas OIS de três meses ficou negativo, invertendo a curva de juros pela primeira vez desde outubro. Os preços futuros da soja - um componente essencial dos compromissos de importação da China no acordo - mostram queda pelo oitavo dia consecutivo, o maior período de baixas em quase dois meses.

Enquanto isso, economistas reavaliam as estimativas sobre o impacto no crescimento econômico. A Nomura International diz que o estrago pode ser mais forte do que o observado durante o surto da Síndrome Respiratória Aguda Grave, ou SARS, em 2003.

Até agora, as duas maiores economias do mundo parecem mais focadas em medidas para evitar a propagação da doença.

“Os EUA e a China estão em estreita coordenação sobre o coronavírus e protegendo a saúde pública de ambos os países”, disse o porta-voz da Casa Branca, Judd Deere. Donald Trump “aprecia a cooperação do presidente Xi.”

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