Banco Central do Brasil (Getty/Getty Images)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 6 de fevereiro de 2024 às 09h08.
Última atualização em 6 de fevereiro de 2024 às 11h17.
O Banco Central (BC) publicou nesta terça-feira, 6, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu os juros para 11,25% ao ano. O colegiado sinalizou novas quedas de 0,5 ponto percentual da taxa nas próximas reuniões, mas fez alertas sobre os riscos que podem pressionar a inflação nos próximos meses. Entre eles, as tensões geopolíticas e seus efeitos sobre preços de fretes, o mercado de trabalho resiliente no Brasil, a inflação de serviços e o El Niño.
Veja abaixo os riscos sinalizados pelo BC
O aumento das tensões no Oriente Médio e os ataques no Mar Vermelho entraram no radar dos membros do Copom.
O temor é de que essa onda de violência aumente o preço dos fretes marítimos e, consequentemente, de produtos exportados.
"Mais recentemente, as tensões geopolíticas e a consequente elevação dos preços de fretes adicionaram incerteza ao cenário prospectivo. Além disso, a própria dinâmica de crescimento econômico e do mercado de trabalho serão importantes para determinar a velocidade da desinflação de serviços. Tais elementos alimentam o debate sobre a natureza das pressões inflacionarias e potencialmente sobre o ritmo de distensão monetária a ser adotado pelas economias avançadas", informou o BC, na ata do Copom. "Nesse contexto, e diante da volatilidade recente e da incerteza à frente no cenário internacional, o Comitê manteve a avaliação de que é apropriado adotar uma postura de cautela, principalmente em países emergentes."
O aumento do salário mínimo, do valor dos benefícios sociais e a criação de empregos têm atenuado o processo de desaceleração da economia. Essa combinação traz riscos para a inflação, na avaliação dos membros do Copom.
"No entanto, na discussão, apresentaram-se elementos que permitiriam observar, nos próximos meses, uma atenuação da desaceleração da atividade antecipada em função do aumento da renda das famílias, como reflexo da elevação do salário-mínimo, de benefícios sociais e do mercado de trabalho mais resiliente", informou o BC.
Com o mercado de trabalho aquecido e reajustes salariais acima da meta de inflação, a economia tende a reaquecer. Com isso, a inflação de serviços tende a aumentar já que as famílias têm mais renda disponível. Isso preocupa o BC. Além disso, o Copom passou a incorporar nas suas projeções uma elevação de preços em função do fenômeno do El Niño.
"A evolução prospectiva do hiato do produto e o comportamento do mercado de trabalho foram considerados, novamente, muito relevantes para determinar a velocidade com que a inflação atingirá a meta. Notou-se que um mercado de trabalho mais apertado, com reajustes salariais acima da meta de inflação, pode potencialmente retardar a convergência da inflação, impactando notadamente a inflação de serviços e de setores mais intensivos em mão de obra. Em contraposição, uma recomposição favorável de preços relativos, uma dinâmica benigna de commodities ou uma menor inflação de serviços poderiam potencialmente contribuir para um processo desinflacionário mais célere", diz a ata do Copom.
Em sua conclusão, segue o texto, o Comitê avalia que o "cenário prospectivo de inflação não se alterou" e já incorpora nas suas projeções "uma elevação de preços em função do fenômeno do El Niño e monitora os impactos da reversão do fenômeno".
Com o fim da pandemia, as famílias passaram a consumir serviços em maior intensidade.
Esses preços têm caído em menor intensidade. Com o aumento dos salários e com o mercado de trabalho aquecido, o BC teme que esse item continue elevado.
"O Comitê notou, no entanto, que há alguns aspectos na dinâmica inflacionária recente que requerem maior escrutínio. O Comitê debateu, em particular, a recente dinâmica da inflação de serviços, com foco nos seus componentes subjacentes, e os cenários prospectivos", informou o Copom. "Alguns membros destacaram a importância de se compreender as contribuições relativas, para a desinflação recente em serviços, do aperto monetário vigente e de um potencial transbordamento das desinflações verificadas em alimentos e bens industriais."