Diretores do Banco Central (BC) reunidos em Brasília para mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ( Raphael Ribeiro/BCB/Flickr)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 19 de junho de 2024 às 18h36.
Última atualização em 20 de junho de 2024 às 14h04.
Em decisão unânime nesta quarta-feira, 19, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa de juro inalterada em 10,5% ao ano. O mercado já esperava o fim do ciclo de cortes. Entretanto, o temor era de uma nova divisão na diretoria do Banco Central (BC). A desancoragem nas expectativas de inflação de 2024 e 2025 após o governo mudar as metas fiscais dos próximos anos pesou na decisão do colegiado.
"O Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juro serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", informou o BC.
O aumento das incertezas desde a última reunião do Copom consolidou a aposta de queda de 0,25 ponto percentual de juros em maio e de fim do ciclo de cortes em junho. A mudança da meta fiscal se traduziu em aumento das expectativas de inflação.
Como mostrou a EXAME, após a decisão do governo de mudar as metas fiscais, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, passou a dar ênfase nos discursos sobre a necessidade de ancorar as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A EXAME consultou ex-diretores do BC que produzem modelos semelhantes aos da autoridade monetária para estimar a inflação de 2024 e dos próximos anos. Em todos eles as projeções para o IPCA subiram consideravelmente com a decisão do Ministério da Fazenda de zerar o déficit público somente em 2025 e promover um ajuste fiscal somente no próximo governo.
O Copom manteve os juros inalterados para 10,5% ao ano.
A taxa Selic é a taxa básica de juro no Brasil, ou seja, aquela que vai nortear todos os demais juros, tanto para quem recebe quanto para quem paga. Ela é importante para quem realiza algum empréstimo ou financiamento em alguma instituição financeira e também para quem investe.
O Banco Central possui um sistema conhecido como Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, onde acontecem as compras e vendas de títulos públicos, e se utiliza a taxa Selic para nortear qualquer operação.
É justamente o nome desse sistema que faz a taxa básica de juro no Brasil ser conhecida como Selic. Quando nos referimos à negociação de títulos públicos no sistema do BC, se tratam de operações de empréstimo de curto prazo que são feitas entre instituições, que por sua vez, tem como garantia esses títulos.