O presidente do Comitê de Política Monetária e do Banco Central, Henrique Meirelles (.)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
São Paulo - O Banco Central avalia que aumentaram os riscos à concretização de um cenário inflacionário benigno no Brasil, competindo à política monetária agir de forma "incisiva" para evitar deterioração no futuro.
A visão foi divulgada nesta quinta-feira na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando a Selic foi elevada em 0,75 ponto percentual, a 9,5 por cento ao ano.
Para o mercado, o documento foi claro em relação ao risco inflacionário e ao esgotamento da capacidade ociosa da economia, mas não foi tão duro a ponto de sugerir uma aceleração do ritmo de aperto. Assim, os analistas projetam uma nova alta de 0,75 ponto em junho.
Segundo o BC, na reunião da semana passada houve consenso entre os membros sobre a necessidade de adequar o ajuste do juros à evolução do cenário inflacionário prospectivo.
"Desde a última reunião, aumentaram os riscos à concretização de um cenário inflacionário benigno, no qual a inflação seguiria consistente com a trajetória das metas", disse o BC.
"À luz desse quadro, prevaleceu o entendimento entre os membros do Comitê de que competiria à política monetária agir de forma incisiva para evitar que a maior incerteza detectada em horizontes mais curtos se propague para horizontes mais longos."
Para Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, o fato de o Copom ter classificado um aumento de 0,75 ponto como incisivo "afasta a possibilidade de ele acelerar a alta do juro a 1 ponto. Acho que ele sugere que esse ritmo inicial é adequado, pelo menos por enquanto".
Segundo o BC, os principais riscos para um cenário inflacionário benigno vêm das commodities e, no ambiente interno, dos impulsos fiscal e de crédito sobre a demanda.
"Esses desenvolvimentos podem exacerbar um quadro que já evidencia a presença de descompasso entre o crescimento da absorção doméstica e a capacidade de expansão da oferta."
O BC acrescentou que índices recentes mostram haver pressões sobre o mercado de fatores, o que aumenta o risco de desenvolvimentos inflacionários inicialmente localizados prejudiquem a trajetória da inflação. "Nesse contexto, aumenta também o risco de repasse de pressões de alta de custos para os preços no atacado e destes para os preços ao consumidor."
O mercado de juros futuros operava em queda nesta manhã, com o contrato janeiro de 2011 recuando para 11,08 por cento, ante 11,13 por cento no ajuste da véspera.
"O documento foi bem claro na exposição dos motivos que levaram o BC a ajustar a política. Vejo que ele passou uma impressão de que é de fato um processo, um ajuste do juro para adequar o ritmo de crescimento à capacidade da economia. Não passou a ideia de nenhum descontrole, de nenhum ritmo além do que se previa", acrescentou Campos Neto.
Crise grega
Em relação ao ambiente externo, o Copom disse que a aversão a risco mostrou arrefecimento desde a última reunião, apesar de uma intensificação da volatilidade em resultado da crise grega.
O BC acrescentou ver que houve retomada de pressões inflacionárias em grandes economias, o que faz com que a influência externa sobre a inflação doméstica possa deixar de ser benigna.
"Por outro lado, esse cenário pode vir a ser rapidamente revertido, a depender da dinâmica que tomar o quadro de desconfiança dos participantes de mercado em relação à solvência de algumas economias européias", disse o BCE.
Diego Donadio, analista sênior para a América Latina do BNP Paribas, viu nesta parte mais um motivo para acreditar que não deverá haver aceleração no ritmo do aperto.
"Quando ele coloca muito peso no setor externo, seja nas commodities seja nos problemas na Europa... mostra que o BC está agindo, mas olhando com cautela, que não vai acelerar o passo da alta de juro, não vai subir mais que 0,75 ponto porque há um risco externo", disse Donadio.