Economia

Copom anuncia corte de 0,5 p.p. na Selic, que vai a 5% ao ano

Essa é a 3ª queda seguida da taxa básica desde o início do ciclo de afrouxamento; segundo BC, ainda há espaço para mais uma

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (foto de arquivo de 11 de outubro de 2019). (Patricia Monteiro/Bloomberg)

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (foto de arquivo de 11 de outubro de 2019). (Patricia Monteiro/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 30 de outubro de 2019 às 18h08.

Última atualização em 30 de outubro de 2019 às 19h22.

São Paulo – O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copomcortou em 0,5 ponto percentual (p.p.) — de 5,5% para 5% ao ano — a Selic (taxa básica da economia) nesta quarta-feira (29). A decisão foi unânime.

Essa é a terceira queda seguida desde o início do ciclo de afrouxamento monetário iniciado pelo BC em julho. Com a redução, em linha com o grosso das expectativas de mercado, a taxa renova seu nível mínimo histórico.

No comunicado, o Comitê sinaliza que haverá mais um corte de meio ponto na última reunião do ano, no dia 11 de dezembro, dizendo que "avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude".

"No cenário externo, a provisão de estímulos monetários adicionais nas principais economias, em contexto de desaceleração econômica e de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes. Entretanto, o cenário segue incerto e os riscos associados a uma desaceleração mais intensa da economia global permanecem", diz o comunicado.

Para Marcos Ross, economista da XP Investimento, o BC mostrou cautela em relação a um possível grau de ajuste para as reuniões do ano que vem. "O BC sinaliza que quer testar o patamar de 4,25% no ano que vem, mas começa a entender que o cenário de inflação pode não ser super benigno entre 2020 e 2021", diz.

"Antes trabalhávamos com mais um corte de 50 pontos base fazendo esta chegar a 4,5% em dezembro e depois parando. Agora vemos espaço para mais um corte de 0,25 ponto na reunião de fevereiro de 2020", diz André Perfeito, economista-chefe da Necton.

O determinante agora para o movimento dos juros, segundo Ross, além da inflação continuar bem ancorada é o avanço das reformas do governo. "O fato de ele ter colocado no plural 'os eventuais graus de ajuste' no fim do comunicado remete a isso", diz.

O ciclo de queda na Selic ocorre em meio a uma combinação de desemprego alto, baixo crescimento econômico, inflação controlada e avanço na agenda de reformas.

No último dia 22, o Senado aprovou em segundo turno a reforma da Previdência. Além dessa, a equipe econômica do governo está prestes a anunciar projetos de leis, como a reforma administrativa, que visam dar mais folga ao orçamento público.

O IPCA, índice usado para medir a inflação oficial no país acumula 2,89% em 12 meses. O valor é bem abaixo da meta de 4,25% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, com com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Já o Produto Interno Bruto (PIB) tem alta de 1% em um ano até o segundo trimestre, semelhante ao resultado dos dois últimos anos. Sobre o desemprego recou para 11,8% em agosto, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O país ainda tem, no entanto, mas de 12 milhões de desempregados. 

Veja comunicado na íntegra:

Em sua 226ª reunião, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 5,00% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

Indicadores de atividade econômica divulgados desde a reunião anterior do Copom reforçam a continuidade do processo de recuperação da economia brasileira. O cenário do Copom supõe que essa recuperação ocorrerá em ritmo gradual;

No cenário externo, a provisão de estímulos monetários adicionais nas principais economias, em contexto de desaceleração econômica e de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes. Entretanto, o cenário segue incerto e os riscos associados a uma desaceleração mais intensa da economia global permanecem;

O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;

As expectativas de inflação para 2019, 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,3%, 3,6%, 3,75% e 3,5%, respectivamente;

No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,4% para 2019, 3,6% para 2020 e 3,5% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 4,50% a.a., permanece nesse patamar ao longo de 2020 e se eleva até 6,38% a.a. em 2021. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2019 em R$ 4,00/US$, permanece nesse patamar ao longo de 2020 e encerra 2021 a R$3,95/US$; e

No cenário híbrido com taxa de câmbio constante a R$4,05/US$* e trajetória de juros da pesquisa Focus, projeta-se inflação em torno de 3,4% para 2019, 3,7% para 2020 e 3,6% para 2021.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, a combinação (i) do nível de ociosidade elevado e (ii) da potencial propagação da inflação corrente, por mecanismos inerciais, pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (iii) o atual grau de estímulo monetário, que atua com defasagens sobre a economia, aumenta a incerteza sobre os canais de transmissão e pode elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. O risco (iii) se intensifica no caso de (iv) deterioração do cenário externo para economias emergentes ou (v) eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 5,00% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2020 e, em grau menor, o de 2021.

O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

O Copom avalia que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo é essencial para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.

Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve ajuste no grau de estímulo monetário, com redução da taxa Selic em 0,50 ponto percentual. O Comitê avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude. O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico  recomenda cautela em eventuais novos ajustes no grau de estímulo. O Comitê reitera que a comunicação dessa avaliação não restringe suas próximas decisões e enfatiza que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (Presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

 

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.

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