Hidrelétrica de Furnas, Minas Gerais. (Jonne Roriz/Bloomberg/ via/Getty Images)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 8 de julho de 2021 às 17h10.
Última atualização em 8 de julho de 2021 às 18h02.
O Brasil passa por uma das piores crises hídricas na história. Pela primeira vez em mais de 100 anos, o Sistema Nacional de Meteorologia emitiu um alerta de emergência hídrica para a área da Bacia do Paraná, que abrange os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. A previsão é de chuvas abaixo da média entre junho e setembro na região, conhecida por concentrar as principais hidrelétricas do país.
É justamente esta região a responsável por cerca de 70% de toda a energia hidrelétrica gerada no país. Por conta da baixa nos reservatórios, o governo precisou acionar as usinas termelétricas, que custam mais. Todo este ingrediente levou a um aumento na conta de luz, o que pressiona a inflação.
Na opinião de Adriano Pires, sócio fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) faltou planejamento do governo para passar por esta crise. “É claramente falta de planejamento”, disse ele em entrevista ao canal UM BRASIL, uma iniciativa da FecomercioSP, e a qual EXAME teve acesso com exclusividade.
"Construímos a matriz elétrica muito refém do clima. No governo de Fernando Henrique Cardoso, 90% da matriz era água. Depois veio o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, proibiu a construção de hidrelétrica com reservatório. Dali pra frente ficamos construindo a fio d' água, que gera energia só quando chove. Depois investimos em outras energias intermitentes, como a eólica e mais recente a solar”, avalia Pires.
Na opinião do especialista, o problema seria resolvido caso a matriz energética brasileira fosse mais diversificada. Ele reconhece que o país saiu da dependência de 90% de água, para 65%, mas pondera que as outras fontes também são influenciadas pelo clima.
“Precisamos trazer mais confiabilidade para o sistema. A matriz precisa ser mais equilibrada e diversificada, com térmica de gás natural, energia nuclear e energias renováveis que não são intermitentes, como o biogás. Esse planejamento não tem sido feito durante os últimos anos”, diz.
A falta de chuvas afeta diretamente a conta de luz. Com os reservatórios da hidrelétricas em baixa, o governo precisou acionar as usinas termelétricas, que produzem energia mais cara. Como resultado, entrou em vigor a bandeira tarifária vermelha dois, a mais custosa aos consumidores, desde a semana passada. E tudo isso impacta diretamente na inflação, porque a conta de energia faz parte do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA.
Em pesquisa EXAME/IDEIA realizada no meio de junho, 43% dos brasileiros afirmaram que pagar mais caro na conta de luz é o maior problema causado pela crise hídrica no país. O impacto na atividade econômica e no emprego pode ser a consequência para 32%. Outros 17% acham que o país pode enfrentar um apagão.
Além de pagar mais caro na conta de luz, há um aumento da inflação. Para Adriano Pires, a energia é a “vilã da vez” para a subida dos preços. “A economia está retomando o crescimento com a estabilização da pandemia. Está se falando em crescimento de 5%, mas infelizmente as projeções não estão precificando a crise de energia”, afirma.
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