Economia

Consumo, o único motor que sustenta o "milagre" econômico romeno

O aparente "milagre" em um dos países mais pobres da UE despertou o ceticismo entre os especialistas, com a maioria deles não o vendo como sustentável

Romênia: o aumento dos salários dos funcionários e do salário mínimo são os principais fatores do pico econômico romeno (Sean Gallup/Getty Images)

Romênia: o aumento dos salários dos funcionários e do salário mínimo são os principais fatores do pico econômico romeno (Sean Gallup/Getty Images)

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EFE

Publicado em 9 de outubro de 2017 às 11h30.

Bucareste - Com aumento de salários e queda de impostos, a Romênia conseguiu estimular o consumo interno e o crescimento econômico, que chegou a 5,6% no primeiro trimestre de 2017, a taxa mais alta da União Europeia (UE).

Apesar disso, este aparente "milagre" em um dos países mais pobres entre os 28 parceiros do bloco despertou o ceticismo entre os especialistas: a maioria deles não o veem como sustentável.

O significativo aumento dos salários dos funcionários - de mais de 20% - e também do salário mínimo, que passou de 220 para 310 euros, nos últimos dois anos, são os principais fatores do pico econômico romeno.

A isto se acrescenta que o Governo social-democrata baixou o Imposto de Valor Acrescentado (IVA) dos alimentos de 24% para 9% em junho de 2015, enquanto a cota geral do IVA diminuiu de 24% para 20% em janeiro de 2016 e para 19% no começo deste ano.

"O forte crescimento econômico se deve ao grande avanço do consumo alimentado pela alta dos salários e a suavização dos impostos, mas isto só funciona a curto prazo", explicou à Agência Efe o presidente do Conselho Fiscal, Ionut Dumitru.

"Sem dúvida alguma, se tivermos um crescimento do consumo sem um apoio de outro setor econômico, então aumentará o déficit comercial e o de conta-corrente", prosseguiu Dumitru.

O déficit comercial da Romênia chegou a 3,360 bilhões de euros no primeiro trimestre de 2017, 20,3% a mais que no mesmo período de 2016, e a balança por conta corrente registrou um déficit de 690 milhões de euros, duas vezes maior frente ao primeiro trimestre de 2016.

Tampouco o crescimento econômico se correlaciona ao déficit público. A Romênia viu como este cresceu de 1,8% para 3,2% entre o final do ano passado e no dia 31 de março de 2017, segundo o Escritório de Estatísticas Europeu.

"Além do déficit, o crescimento econômico baseado no consumo provocará, tarde ou cedo, efeitos nefastos sobre a inflação, o que limitará o poder aquisitivo das famílias", advertiu à Efe Dan Popa, analista econômico.

"Só se pode aumentar os salários se realmente acontece um aumento da produtividade", argumentou Popa.

A Comissão Europeia, por sua vez, estima que a Romênia aumentará sua riqueza em 4,8% em 2017, enquanto que Bucareste espera 5,6%, pelo que, se conseguir isso, terminaria o ano alcançando um PIB recorde de quase 183 bilhões de euros.

Estes dados macroeconômicos animaram o atual Governo social democrata, consciente do ganho político que pode obter, a continuar prometendo altas salariais aos funcionários e aos aposentados, uma estratégia criticada como populista.

"As políticas salariais com sinal populista trazem consequências graves nos preços dos bens e na competitividade", explicou à Efe Lucian Croitoru, conselheiro de política monetária do Banco Nacional da Romênia.

Em 2015, mais de 1,35 milhão dos 4,6 milhões de assalariados no país trabalhavam na administração pública, com o que a taxa do conjunto de funcionários é de 30%.

Croitoru acredita que a alta salarial tenha sido adotada em detrimento do investimento público, que caiu 60% no orçamento de 2017.

"Não se pode forçar a saída da categoria de países com mão de obra barata sem melhorar a produtividade", insistiu o especialista.

Nos últimos anos, várias empresas como Continental e Renault transferiram grande parte da sua produção para a Romênia graças aos baixos salários, mas a atual situação está fazendo com que muitas delas planejem ir embora.

Segundo a Associação de Médias e Pequenas Empresas, um terço das empresas que representam rebaixaram seu modelo ou fecharam desde outubro de 2015, devido sobretudo aos custos de contratação, mas também à escassez de trabalhadores, entre outros devido à forte emigração.

O índice de desemprego atingiu em agosto 5,1% (cerca de 466 mil parados), um mínimo histórico, ainda que segundo Dumitru não reflita toda a realidade.

"Há muitas pessoas que praticam uma agricultura de subsistência e que não estão na lista dos desempregados, e muitas outras que continuam indo embora do país", assegurou.

Calcula-se que cerca de 85 mil romenos deixarão o país ao longo deste ano.

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