Carteiras de trabalho: a taxa de desemprego entre essa população aumentou de 18,4% em setembro para 19,5% em outubro. Em outubro de 2014, essa taxa era de 11,8% (Jorge Rosenberg/Veja)
Da Redação
Publicado em 19 de novembro de 2015 às 12h41.
Rio - O desaquecimento do consumo, registrado por estudos como a Pesquisa Mensal do Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve impedir uma inflexão maior na taxa de desemprego ao fim deste ano.
"Como a gente vê pelos dados do próprio IBGE um desaquecimento das vendas, provavelmente não deve haver uma enxurrada de trabalho temporário. Por menor que seja esse trabalho temporário, ele ocorre. O que a gente não sabe é se ele será o suficiente para absorver todas as pessoas que estão buscando (emprego) e para fazer a inflexão da taxa (de desocupação) no fim do ano", avaliou Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.
No mês de outubro, costuma começar uma redução mais acentuada na taxa de desemprego por um movimento sazonal, que é a contratação de trabalhadores temporários para dar conta do aumento na demanda por bens e serviços no fim do ano.
Na passagem de setembro para outubro deste ano, houve aumento na fila do desemprego pela primeira vez, dentro da série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), iniciada em 2002.
"Há mais pessoas buscando (trabalho) e outras estão sendo dispensadas. É o único outubro em que a desocupação cresce na PME", confirmou Adriana.
O aumento na taxa de desemprego em outubro foi puxada pela população jovem, na faixa etária de 18 a 24 anos.
A taxa de desemprego entre essa população aumentou de 18,4% em setembro para 19,5% em outubro. Em outubro de 2014, essa taxa era de 11,8%.
"São pessoas que nem sempre reúnem qualificação, que ficam em categorias de mais rotatividade. Uma coisa é escolaridade formal, outra é qualificação profissional, que vem sendo exigida. Essa pessoa tem dificuldade de entrar (no mercado) e quando entra fica menos tempo. Então, seja porque perdeu o trabalho ou porque continua a procurar, (essa população jovem) fez aumentar a taxa de desocupação", justificou a técnica do IBGE.
Na faixa etária de 25 a 49 anos, a taxa de desemprego saiu de 6,3% em setembro para 6,6% em outubro. Em outubro de 2014 o resultado era de 3,8%.
No total de pessoas com 50 anos ou mais de idade, a taxa de desemprego manteve-se em 3,5% em setembro e outubro. Em outubro do ano passado, a taxa era de 2,2%.
Setores
De acordo com a PME, A indústria cortou 130 mil vagas na passagem de setembro para outubro, uma redução de 3,9% no total de ocupados. Em relação a outubro de 2014, o número de empregados caiu 8,7%, 305 mil a menos.
"A gente percebe, desde meados de 2014, esse comportamento da indústria de redução da população ocupada. Agora esse movimento vem sendo acompanhado pela construção", disse Adriana Beringuy.
Na construção, a queda na ocupação foi de 0,6% em outubro ante setembro, 11 mil vagas a menos. Em relação a outubro de 2014, o recuo foi de 5,2%, o equivalente à dispensa de 94 mil trabalhadores.
No comércio, o total de ocupados encolheu 2,0% em outubro ante setembro, 87 mil demitidos. Na comparação a outubro do ano passado, a redução foi de 1,5% - 65 mil vagas a menos.
Nos serviços prestados a famílias, houve aumento de 0,9% na ocupação na passagem de setembro para outubro (32 mil funcionários a mais), mas queda de 3,7% em relação a outubro de 2014 (145 mil postos extintos).
Na educação, saúde e administração pública, o total de ocupados caiu 0,7% ante setembro (-28 mil) e recuou 1,1% em relação a outubro de 2014 (-43 mil).
Os serviços domésticos perderam 1,3% dos trabalhadores na comparação com setembro (-18 mil) e encolheram 2,0% ante outubro do ano passado (-28 mil).
Já o segmento de outros serviços registrou aumento de 0,2% na ocupação ante setembro (9 mil trabalhadores a mais), mas queda de 2,9% em relação a outubro do ano anterior (-126 mil vagas).
"Outros serviços é um segmento bem amplo, que inclui serviços de alimentação, alojamento , transporte de carga, serviços pessoais. É um segmento que está muito ligado à questão de poder aquisitivo da população para consumir. A gente tem visto uma queda sucessiva no rendimento", justificou Adriana.
Inflação
Segundo os dados da PME, a inflação puxou a queda na renda do trabalhador em outubro. O recuo de 7,0% em relação a outubro do ano anterior foi o maior para o mês desde 2003.
"Essa queda está associada a um crescimento no rendimento nominal de 2,8%. Claro que, em anos anteriores, esse crescimento era maior. Então, foi o rendimento nominal que cresceu menos, e a perda efetivada quando você transforma esse rendimento de nominal para real, quando desconta a inflação", explicou Adriana Beringuy.
Segundo ela, o poder de barganha dos trabalhadores ocupados por aumentos salariais diminuiu num momento em que há redução no número de vagas e mais pessoas à procura de emprego.
"Provavelmente o poder de barganha das pessoas que continuam ocupadas não é mais o mesmo. As empresas estão dispensando", lembrou.
Mas a própria redução na renda também explica uma maior procura por vaga no mercado de trabalho, pressionando a taxa de desemprego, avaliou Adriana.
Todas as atividades pesquisadas pelo IBGE registraram queda no rendimento real dos ocupados em outubro ante outubro de 2014, com destaque para indústria (-10,3%), construção (-9,4%) e comércio (-8,8%).