A Espanha conseguiu vender com êxito 2,6 bilhões de euros em bônus do governo ontem (7), com juros de 6% (Pierre-Philippe Marcou/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de junho de 2012 às 12h53.
Brasília – A Espanha é o segundo país que mais investe na América Latina e o retorno desses investimentos tem dado fôlego a empresas espanholas que enfrentam dificuldades em casa. Com o aprofundamento da crise financeira no país, porém, a dúvida é se algumas companhias espanholas seriam obrigadas a se desfazer dessas “joias da coroa".
Para o analista Wilber Colmerauer, diretor da consultoria Brasil Funding, em Londres, a possibilidade de que empresas espanholas tenham de reduzir seus investimentos e vender ativos na América Latina não pode ser ignorada.
"Ninguém quer se desfazer de ativos lucrativos na região, mas esse é um cenário provável se a crise na Espanha descambar para um colapso financeiro. Primeiro porque a União Europeia deve pressionar por uma reestruturação das instituições financeiras espanholas antes de ajudar o país. Segundo, porque deve ficar cada vez mais caro para empresas espanholas rolarem suas dívidas."
A Espanha conseguiu vender com êxito 2,6 bilhões de euros em bônus do governo ontem (7), com juros de 6%. No mês passado, o Bankia, quarto maior banco do país, pediu uma ajuda de 19 bilhões de euros ao governo, o que tem gerado incertezas entre investidores sobre a solidez do sistema financeiro espanhol.
Recentemente, rumores de uma possível venda de 30% a 40% do Santander no Brasil para o Banco do Brasil, em um primeiro momento, e para o Bradesco, logo em seguida, repercutiram em jornais e sites brasileiros – apesar de as negociações terem sido negadas por executivos dessas instituições financeiras.
O Santander já vendeu uma parte de seus ativos no Chile e se desfez de sua filial colombiana, conseguindo cerca de US$ 2 bilhões para reforçar sua posição na Espanha – onde a inadimplência está crescendo. O banco BBVA anunciou no mês passado que pretende liquidar total ou parcialmente seus fundos de pensão no Chile, na Colômbia, no Peru e no México.
Para Colmerauer, tais iniciativas indicam que a América Latina e o Brasil, em especial, podem ser afetados por um possível acirramento da crise espanhola, não só por uma redução do comércio bilateral, como já vem sendo alardeado, mas também pela saída de divisas.
"É razoável esperar um aumento da remessa de lucros para as matrizes e uma venda de ativos na América Latina como resultado da reestruturação das empresas espanholas", disse o analista, identificando o setor bancário e o de construção como os mais vulneráveis. "Para complicar, tal movimento de capitais poderia levar a desvalorização do câmbio”, completou.