Economia

Construtoras terão aditivo de R$ 700 mi por Belo Monte

Sócios da usina concordaram em pagar o aditivo ao consórcio construtor da obra, após quase dois anos de negociações


	Vista aérea do Rio Xingu em área de construção de Belo Monte, em uma foto de junho de 2012
 (foto/Getty Images)

Vista aérea do Rio Xingu em área de construção de Belo Monte, em uma foto de junho de 2012 (foto/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 25 de julho de 2014 às 08h01.

São Paulo - Depois de quase dois anos de negociação, os sócios da usina hidrelétrica de Belo Monte concordaram em pagar um aditivo de cerca de R$ 700 milhões ao consórcio construtor da obra, CCBM, que está sob a liderança da construtora Andrade Gutierrez.

O valor a ser pago foi aprovado na reunião do conselho da concessionária Norte Energia, na semana passada, como confirmaram ao jornal O Estado de S. Paulo cinco dos dez sócios do empreendimento.

O valor contempla, além das despesas em função dos meses de paralisação das obras, orçamento extraordinário para tentar recuperar o atraso no cronograma da usina.

Os sócios estão satisfeitos com a negociação por dois motivos. Primeiro, porque originalmente as construtoras, que já tinham um contrato de quase R$ 14 bilhões, pediam mais R$ 4 bilhões, alegando custos extraordinários.

"Chegaram a pedir R$ 6 bilhões", conta um sócio. O segundo motivo é porque não será necessário um aporte novo de capital.

O dinheiro para o pagamento ao consórcio construtor CCBM sairá da verba de contingências, já prevista no plano de investimento de R$ 25 bilhões, orçado em 2010.

Atualizado pela inflação, o investimento em Belo Monte ultrapassa R$ 30 bilhões. Em 2010, as reservas para contingências eram de R$ 1 bilhão.

Mas a partir de agora, segundo conta um dos sócios, as reservas para contingências acabaram e qualquer custo extra terá de ser bancado pelos sócios ou por meio de novo financiamento.

Alguns dos sócios contam que o foco da Norte Energia agora é recuperar os atrasos no sítio Belo Monte. A usina que está sendo construída no Pará tem três frentes de construção.

Cada uma delas é chamada de sítio e o de Belo Monte é onde ficarão turbinas que vão gerar até 11 mil MW de energia.

Qualquer atraso nesta parte da obra, pela sua magnitude, compromete significativamente o retorno sobre o investimento do empreendimento, que já vai sofrer com o atraso no sítio Pimental, onde fica uma usina de menor porte e que deveria entrar em operação em fevereiro de 2015.

O início da geração de energia no sítio Belo Monte está previsto para março de 2016. Os sócios dizem que a obra não pode ser paralisada novamente, sob risco de a usina não entrar em operação na data prevista.

Em entrevista ao jornal O Estado o presidente do conselho da Norte Energia e diretor da Eletrobrás, Valter Cardeal, não quis dar detalhes sobre a negociação com as construtoras, mas fez questão de frisar que os ajustes contratuais necessários estão sendo feitos para que a obra fique dentro do cronograma.

Negociação

Segundo as fontes ouvidas pela reportagem, apesar de o conselho já ter aprovado o desembolso, o aditivo ainda não foi assinado pois faltam alguns ajustes.

As construtoras tentam inserir nas cláusulas do aditivo uma salvaguarda para que não sejam responsabilizadas por eventuais atrasos que não sejam sua culpa, algo muito parecido com o que a própria Norte Energia pede para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Em função das constantes paralisações, seja por causa de invasões ou por medidas judiciais, a obra já tem atraso de um ano. Fontes das construtoras dizem que, ao todo, foram 120 dias de paralisação desde que a obra teve início há três anos.

Um dos sócios até acredita que o pedido das construtoras é justo, mas os outros, no entanto, não querem aprovar essa cláusula, o que pode gerar ainda alguma discussão em torno do aditivo.

De qualquer forma, as partes já chegaram ao termo dos custos extraordinários. A drástica redução de R$ 4 bilhões para R$ 700 milhões deveu-se, em parte, ao fato de que as construtoras reconheceram que o projeto original teve algumas otimizações, ou seja, onde se imaginava gastar mais, gastou-se menos.

Por outro lado, a concessionária reconheceu custos extras com questões geológicas, paralisações ou interrupções e algumas obras que não estavam no escopo original do projeto.

Além disso, foi considerada no orçamento do aditivo a redução do cronograma. O consórcio CCBM disse que não faria comentários sobre a negociação por ainda estar em curso. A Norte Energia informou apenas que o impacto do aditivo é decorrente das paralisações.

Aumento de capital

Dentre os principais sócios da usina estão os grupos de energia Eletrobrás, Neoenergia e Cemi, os fundos de pensão da Caixa Econômica Federal e Petrobrás e a mineradora Vale.

Todos eles poderão ser chamados a aportar mais recursos na usina caso ocorram gastos extraordinários. Uma das possibilidades seria aportar novos recursos para evitar atraso no cronograma.

Um dos sócios relata que, apesar de valer a pena aportar novos recursos para evitar atraso, seria inviável tecnicamente, pois há um esgotamento de mão-de-obra e materiais para ser levado a Belo Monte.

A obra já está com reforços de mão de obra e equipamentos conforme informou o próprio consórcio Norte Energia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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