Km 170 da Via Dutra (BR-116) em São João do Meriti (RJ) (Reprodução/Google Street View)
Da Redação
Publicado em 17 de julho de 2014 às 21h02.
Brasília - A concessionária de rodovias CCR, que tem como acionistas Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Soares Penido, conseguiu autorização do conselho de investimento do FI-FGTS para que a Caixa Econômica Federal analise a proposta de aporte de R$ 590 milhões destinados à recuperação da Rodovia Presidente Dutra.
O jornal "O Estado de S. Paulo" apurou que esse foi o único projeto votado e aprovado na reunião desta semana do comitê de investimento, formado por 12 integrantes, dos quais a metade indicada pelo governo e os demais, representantes de centrais sindicais e de associações patronais.
Cada operação do FI-FGTS - que usa o dinheiro do superávit do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) - precisa ser autorizada por, ao menos, nove dos 12 membros.
Criado há seis anos, o fundo de investimento é atualmente a maior fonte de crédito para infraestrutura do País, depois do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com desembolso médio anual de R$ 3,7 bilhões.
Essa não é a autorização final para o desembolso dos recursos. Membros da diretoria executiva da Caixa, que fornece a garantia de crédito às operações, ainda precisam dar sinal verde para que o dinheiro possa ser liberado.
Consultorias externas sobre a viabilidade do empreendimento embasam essa decisão.
Recuperação
Os quase R$ 600 milhões serão usados para recuperação dos 402 quilômetros da Rodovia Presidente Dutra, ligação entre as duas maiores regiões metropolitanas do País: São Paulo e Rio de Janeiro.
Outras 34 cidades são cortadas pela rodovia, que também é o principal elo entre o Nordeste e o Sul do Brasil.
A CCR Nova Dutra assumiu a administração da rodovia em 1996 nas primeiras privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso.
No final de 2013, a carteira de investimentos do FI-FGTS somou R$ 29 bilhões. Para este ano, a Caixa tem sinal verde para aplicar o valor recorde de até R$ 10 bilhões.
O banco estatal afirma que analisa mais de cem projetos de infraestrutura em rodovias, portos, hidrovias, ferrovias, energia, saneamento e aeroportos.
A previsão para os desembolsos neste ano foi feita a partir da necessidade de financiamento estimada em R$ 200 bilhões às empresas vencedoras de leilões de concessões oferecidas pelo governo.
A CCR lidera, com 75% de participação, o consórcio Aerobrasil, que arrematou o aeroporto internacional Tancredo Neves (Confins), em Belo Horizonte (MG). O grupo venceu o leilão da BR-163 no trecho que corta o Mato Grosso do Sul.
Se receber sinal verde da área técnica da Caixa, não será a primeira vez que a CCR será financiada pelo FI-FGTS.
No final de 2008, num momento em que a crise financeira internacional havia secado as fontes de crédito, a concessionária recebeu R$ 500 milhões para recuperação das rodovias Dutra e Bandeirantes e para a ponte Rio-Niterói.
O FI-FGTS resgatou as debêntures três anos mais tarde com um rendimento de 14,75% ao ano. A empresa foi procurada pela reportagem, mas preferiu não se pronunciar.
Agosto
Dois outros projetos polêmicos não foram votados na reunião de julho e ficaram para o próximo mês. O investimento de até R$ 500 milhões na Estre Ambiental, que tem como sócios Wilson Quintella Filho e fundos do banco BTG e da gestora Angra Infraestrutura.
Como o jornal "O Estado de S. Paulo" revelou, em maio, a Odebrecht Ambiental, que é concorrente da Estre e sócia do fundo, passou a pressionar o comando do FI-FGTS sobre conflitos de interesse caso o fundo seja acionista das duas empresas.
Embora tenha recebido o primeiro sinal verde do comitê de investimento, o aporte de até R$ 400 milhões no Estaleiro Atlântico Sul (EAS) não foi colocado em pauta na reunião deste mês.
Se aprovada, a operação fará com que o FI-FGTS se torne sócio das empresas Camargo Correa, Queiroz Galvão e de um grupo de empresas japonesas liderado pela IHI Corporation, com participação de até 20% do Estaleiro Pernambuco.