Economia

Congresso reserva R$ 19 bi para orçamento secreto e quer resgatar obrigatoriedade

A estratégia mantém o esquema atual de liberação de verbas sob controle dos parlamentares no ano que vem

Congresso Nacional reservou R$ 19 bi para orçamento secreto em 2023 (Andressa Anholete/Getty Images)

Congresso Nacional reservou R$ 19 bi para orçamento secreto em 2023 (Andressa Anholete/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de julho de 2022 às 20h16.

O Congresso Nacional impôs ao Executivo a reserva de R$ 19 bilhões para emendas do orçamento secreto em 2023 e articula o resgate da regra que obriga o pagamento dessas verbas conforme a indicação dos deputados e senadores. A estratégia mantém o esquema atual de liberação de verbas sob controle dos parlamentares no ano que vem.

Assine a EXAME e fique por dentro das principais notícias que afetam o seu bolso. Tudo por menos de R$ 0,37/dia.

O Legislativo aprovou, nesta terça-feira, 12, o projeto de Lei das Diretrizes Orçamentária (LDO) de 2023 com regras que obrigam o governo a reservar uma parcela do Orçamento para as emendas secretas e mantêm o controle das indicações nas mãos do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL). Foram 324 votos favoráveis e 110 contrários na Câmara e 46 a 23 no Senado. Agora, a lei dependerá de sanção do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Um dos dispositivos obriga o governo a reservar um recurso equivalente a R$ 19 bilhões para as chamadas emendas de relator-geral de 2023 no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), que deve ser encaminhado pelo Executivo em agosto deste ano. Nos últimos três anos, o Congresso incluiu as emendas do orçamento secreto cortando despesas do Executivo durante a votação do Orçamento. Desta vez, o governo terá que assumir o ônus de cortar os próprios gastos para reservar a verba parlamentar já na largada do processo.

O relator da LDO, senador Marcos do Val (Pode-ES), havia incluído outra regra que obrigava o governo a pagar os recursos do orçamento secreto conforme a indicação dos parlamentares, dando o mesmo status das emendas individuais e de bancada, que são impositivas. Após admitir ao Estadão que teve acesso a R$ 50 milhões por "gratidão" ao apoio dado na eleição do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em fevereiro de 2021, o relator recuou dessa proposta por pressão de Pacheco.

Os deputados e senadores aprovaram outro dispositivo no projeto mantendo o domínio de Arthur Lira sobre as emendas. A proposta exige a assinatura do presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), deputado Celso Sabino (União-PA), aliado direto do presidente da Câmara, para a indicação dos recursos ao longo do próximo ano. Atualmente, a emenda depende apenas da assinatura do relator-geral do Orçamento. Conforme o Estadão revelou, a regra foi incluída para preservar o controle do presidente da Câmara se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer as eleições.

Sessão

Agora, o presidente da Câmara articula o resgate da impositividade das emendas do orçamento secreto por meio de uma resolução do Congresso, que poderia ser aprovada por deputados e senadores em outra sessão e fixar essa imposição. Na segunda-feira, 11, Lira reagiu à decisão do relator de retirar a proposta do parecer e pediu para que aliados segurassem a votação do projeto. O presidente da Câmara só liberou a base para aprovar a LDO com a garantia do controle sobre as emendas e o compromisso de aprovar a obrigação de pagamento em outra proposta.

O relator-geral do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), comemorou a aprovação da LDO e admitiu que, mesmo retirando a impositividade das emendas, o modelo continua como está. Os recursos são carimbados por deputados e senadores sem transparência e o pagamento é usado pelo governo para comprar apoio político no Congresso. "O MDB orienta favoravelmente ao relatório do nobre senador Marcos do Val, com o adendo que ele fez, que faz com que as emendas de relator permaneçam como estão não impositivas", disse Castro ao orientar o partido a votar favoravelmente ao parecer.

Com discurso contrário ao pagamento das emendas, a oposição não articulou nenhuma votação para retirar o orçamento secreto do relatório da LDO. O PSB na Câmara chegou a apresentar uma emenda para proibir as verbas de relator além da correção de erros e omissões, atingindo o mecanismo central do orçamento secreto. Quando a votação dessa alteração foi anunciada, porém, não houve quem defendesse no plenário. A emenda foi rejeitada em 20 segundos. Líderes da oposição negociam a manutenção desse modelo com o rateio das verbas no ano que vem, ao mesmo tempo em que o ex-presidente Lula faz discurso contra o orçamento secreto, conforme o Estadão publicou.

O projeto aprovado pelo Congresso também prevê uma série de "jabutis" para facilitar e agilizar o pagamento de verbas eleitorais a redutos políticos de deputados e senadores. Entre eles, a obrigação de o governo federal pagar as chamadas "emendas PIX" até o fim de junho do ano que vem. Esse modelo envolve o repasse de emendas parlamentares indicadas individualmente por deputados e senadores sem transparência ou fiscalização federal e atingiram R$ 3,3 bilhões neste ano.

O dinheiro das emendas parlamentares poderá ser liberado sem atestados técnicos e licença ambiental prévia, atender prefeituras inadimplentes em municípios de até 50 mil habitantes e bancar obras em estradas estaduais e municipais, possibilidade não prevista pela Constituição, conforme o projeto aprovado. Para ampliar ainda mais o montante de emendas parlamentares, o Congresso aprovou ainda a possibilidade de aumentar o limite do teto de gastos da União em 2023 com base em uma projeção de inflação própria, diferente da estimativa oficial do governo federal.

(Estadão Conteúdo)

Acompanhe tudo sobre:Governo BolsonaroMinistério da EconomiaOrçamento federal

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor