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João Pedro Caleiro
Publicado em 14 de maio de 2015 às 12h32.
São Paulo - A Moldávia, um pequeno país ex-soviético de 3,5 milhões de habitantes espremido entre a Romênia e a Ucrânia, foi palco de um roubo inacreditável que ameaça desestabilizar toda a sua economia.
Em novembro do ano passado, alguns dias antes da eleição para o Legislativo, cerca de US$ 1 bilhão simplesmente desapareceu de 3 bancos do país: Banca de Economii, Unibank e Banca Sociala.
Como a quantia equivale a cerca de um oitavo de todo o PIB do país (US$ 7,97 bilhões em 2013), o Banco Central se viu obrigado a resgatar as instituições com empréstimos de emergência no valor de US$ 870 milhões.
"Não posso explicar como uma pessoa pode roubar uma quantidade tão grande de dinheiro de um país tão pequeno", disse a representante da União Europeia no país, Pirkka Tapiola.
A consultoria financeira Kroll foi contratada para investigar o que havia acontecido. Após protestos que levaram dezenas de milhares de pessoas às ruas no começo deste mês, o relatório foi publicado pelo líder do Parlamento - e um culpado foi apontado.
Suspeito
Ele é Ilan Shor, um empresário de apenas 28 anos casado com a popstar russa Jasmine e herdeiro de uma das famílias mais ricas do país.
De acordo com a Kroll, o esquema funcionou da seguinte forma: a partir de 2012, Shor e seus associados começaram a adquirir participação nos três bancos e a aumentar sua liquidez. O esquema não parecia obviamente coordenado, mas olhando em retrospecto, também não tinha qualquer lógica econômica.
A partir daí, houve um aumento considerável em empréstimos multimilionários para algumas entidades da Moldávia recém-criadas, controladas por Shor de forma direta ou indireta.
Por meio de transações complexas, elas repassavam os recursos para contas em outros países e em paraísos fiscais. O risco de uma entidade era garantido pela outra, permitindo que os empréstimos continuassem crescendo - tanto dos bancos para as entidades quanto entre os próprios bancos.
Veja como a exposição do grupo Shor aos bancos da Moldávia cresceu em pouco tempo. 1 milhão de leus, a moeda do país, equivale a cerca de R$ 171 mil:
Shor estava emprestando dinheiro para si mesmo, e foi assim que conseguiu transferir US$ 767 milhões para fora do país em apenas 3 dias, com a perda total chegando aos estimados US$ 1 bilhão.
O empresário foi acusado de corrupção e colocado em prisão domiciliar, mas nega qualquer envolvimento. Será difícil provar sua culpa ou recuperar o dinheiro, já que muitos dos registros das transações foram perdidos, deletados ou destruídos. O vice-governador do BC e o presidente do órgão de supervisão financeira foram afastados.
"Tenho 100% de certeza que a soma não será retomada, e que a diferença se tornará dívida pública", disse o presidente da Liga de Banqueiros do país, Dumitru Ursu, para a agência AFP. Ele também acusou os órgãos e oficiais responsáveis de negligência ou algo pior: "estas transações não podem ter passado debaixo do radar".
No último relatório do Fórum Econômico Mundial sobre competitividade com 144 economias, a Moldávia ficou nas últimas posições em "independência do Judiciário" (141º) e favoritismo nas decisões de oficias do governo (130º). A título de comparação, o Brasil ficou em 76º e 108º nestes quesitos, respectivamente.
A dívida da Moldávia foi para US$ 1,7 bilhão e a moeda perdeu quase metade do seu valor entre novembro e fevereiro, mas se recuperou parcialmente nos últimos meses.
Depois de um crescimento forte em 2013 e 2014, a Moldávia deve entrar em recessão de 1% este ano. O país é um dos mais pobres da Europa, com PIB per capita de US$ 2.229 (um quinto do brasileiro).