Economia

Como os emergentes estão reagindo à sangria de suas moedas

Moedas dos emergentes estão despencando por causa de atuação do Fed e fragilidades internas; só nesta semana, Índia, África do Sul e Turquia aumentaram juros


	Forma do Brasil feita com moedas de real: moeda caiu 2,9% só este mês
 (©AFP / vanderlei almeida)

Forma do Brasil feita com moedas de real: moeda caiu 2,9% só este mês (©AFP / vanderlei almeida)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 30 de janeiro de 2014 às 16h15.

São Paulo - Os países emergentes entraram em 2014 no olho do furacão.

O começo do fim dos estímulos monetários dos Estados Unidos, esperado pelo mercado desde o meio do ano passado, finalmente se tornou realidade em dezembro. 

Ontem, o presidente do Fed Ben Bernanke anunciou mais uma rodada de cortes na quantidade de dinheiro que é injetada mensalmente na economia global.

A recuperação americana está cada vez mais forte ao mesmo tempo que as fragilidades dos emergentes ficam mais evidentes.

O banco Morgan Stanley criou o termo "Fragile Five" (os cinco frágeis) para agrupar os países que estão vulneráveis principalmente por causa de altos déficits de transações em conta corrente:

  Déficit de transações correntes em 2013 (% do PIB)
Brasil 3,7%
Índia (abril-setembro) 3,1%
África do Sul 6,8%
Indonésia (est.) 3,7%
Turquia (est.) 7,1%

A combinação do aperto do Fed com as perspectivas fracas dos emergentes causa uma fuga de recursos destes mercados que se traduz em queda brusca das moedas:

  Queda das moedas em 2014
Real (Brasil) -2,9%
Rúpia (Índia) -5,5%
Rand (África do Sul) -7,6%
Lira (Turquia) -1,1%
Rublo (Rússia) -6%

Os países estão fazendo o que podem para se proteger. Veja algumas das medidas:

1. Aumento de juros

Só nos últimos dias, 3 emergentes aumentaram as taxas de juros. A medida torna os países mais atrativos para os recursos internacionais e enxuga a quantidade de moeda local no mercado.

O banco central turco promoveu o primeiro aumento desde agosto do ano passado, e ele não foi pequeno: de 7,75% para 12%. A decisão fez a lira ter o maior salto em cinco anos.

A África do Sul elevou suas taxas pela primeira vez em 6 anos, ainda que de forma mais modesta - de 5% para 5,5%.

Na Índia, uma nova alta de 0,25 ponto percentual na taxa de juros foi vendida mais como uma forma de combater a inflação interna do que como reação à queda da rúpia.

A primeira reunião do Copom em 2014 também continuou o ciclo de alta da Selic, que foi para 10,5% - o aumento de 0,5 ponto percentual veio acima do esperado pelo mercado. O Brasil continua sendo o maior pagador de juros reais do mundo.


2. Intervenções diretas no mercado de câmbio

O banco central brasileiro continua realizando operações diárias no mercado de câmbio. Só hoje, foram 4 mil contratos com valor de US$ 197,9 bilhões.

As intervenções começaram quando o dólar bateu em R$ 2,45 em agosto do ano passado.

A Turquia interviu diretamente no mercado de câmbio na semana passa pela primeira vez em 2 anos, mas não conseguiu segurar a queda da lira.

3. Medidas extraordinárias

Hoje, o banco central da Rússia divulgou que fará "intervenções ilimitadas" caso o rublo se afaste das metas. A moeda usa a chamada "flutuação suja", que permite variação dentro de um intervalo determinado.

O primeiro-ministro turco Tayyp Erdogan disse que poderá anunciar um pacote econômico "fora do comum" nos próximos dias ou semanas.

Sem efeito prático imediato, as declarações pretendem mexer também com as expectativas do mercado.

A flexibilidade para intervenções depende também do colchão de reservas internacionais, que varia bastante entre os países:

  Reservas internacionais em Nov/2013 (bilhões US$)
Brasil (dez/2013) 358
Índia 277
África do Sul 49
Indonésia 96
Turquia 134
Rússia 509
Acompanhe tudo sobre:ÁfricaÁfrica do SulÁsiaEuropaFed – Federal Reserve SystemÍndiaJurosMercado financeiroMoedasPaíses emergentesRealTurquia

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo