Turistas no Egito: viajantes estão com medo da violência política (David Dennis//Wikimedia Commons)
João Pedro Caleiro
Publicado em 16 de agosto de 2013 às 15h20.
São Paulo – Desde que conseguiu derrubou o ditador Hosni Mubarak em 11 de fevereiro de 2011, o Egito luta para alcançar algum tipo de equiíbrio entre suas forças políticas – um processo que ganhou contornos sangrentos nesta quarta-feira, com a morte de mais de 500 pessoas.
Enquanto isso, a economia do país segue cambaleando e dependente do que acontece do lado de fora de suas fronteiras – seja pelo comércio internacional via canal de Suez, seja pela ajuda americana.
Mas é no turismo que os efeitos de uma crise como a atual são sentidos imediatamente. A violência política afugenta os viajantes, e a economia do país sofre as consequências: o setor responde por cerca de 12% do Produto Interno Bruto egípcio e emprega diretamente 18 milhões de pessoas, de acordo com a Organização Mundial do Turismo.
Números
2010 foi o melhor ano da história para o turismo no Egito, com 14,5 milhões de visitantes e 12,5 bilhões gerados em receita. 2011 começou com protestos, e o número de viajantes no primeiro trimestre despencou 45% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Houve alguma recuperação nos meses seguintes, mas o país fechou o ano da sua revolução com um total de 10,5 milhões de turistas e 9,5 bilhões de dólares em atividade econômica gerada pelo turismo – uma queda de cerca de 30%.
Em 2012, o número de turistas continuou praticamente o mesmo, mas houve um aumento ligeiro na receita, que chegou a US$ 9,9 bilhões – na frente do Brasil, por exemplo, com US$ 6,6 bilhões.
Nos primeiros seis meses de 2013, o Egito recebeu 5,7 milhões de turistas que geraram 4,4 bilhões de dólares, de acordo com números do ministro do Turismo Hisham Zaazou. Foi um aumento ligeiro em relação ao mesmo período do ano anterior, mas abaixo das expectativas. Pouco depois de anunciar estes números, Hisham renunciou junto com outros cinco ministros em protesto contra a violência.
Consequências
Em entrevista à BBC em meados de julho, Mohamed Otman, que lidera a Câmara de Turismo de Luxor, afirmou que as taxas de ocupação despencaram de 80% para menos de 5% na cidade, sede de algumas das obras faraônicas mais famosas. Tentando compensar o baixo interesse, hotéis diminuem preços, e o valor médio gasto pelos turistas tem caído sistematicamente.
Quando começou a se aproximar o aniversário de um ano do presidente Mohammed Mursi no poder, os protestos se intensificaram e os governos dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Canadá, entre outros, aconselharam seus cidadãos a não viajar para o Egito. Mursi foi deposto no dia 3 de julho.
No final do mês, depois de confrontos que deixaram um saldo de 84 mortos, a Associated Press informou que os voos para Cairo que não haviam sido cancelados estavam chegando com menos da metade dos assentos ocupados.
Traumas
Com o aumento da violência recente, a situação só tende a piorar, mas a indústria do turismo já andava desconfiada do governo da Irmandade Muçulmana. Membros do Partido Salafista, aliados do governo, chegaram a sugerir que poderia haver restrição à venda de álcool e ao uso de biquínis nas praias, o que foi rapidamente negado.
Algumas semanas antes de ser retirado do poder, Mursi havia indicado um ex-membro do grupo Gamaa Islamiya para governar Luxor. O problema é que militantes associados ao grupo foram os responsáveis pelo ataque que matou 58 turistas na cidade em 1997. A revolta local foi tão grande que a decisão foi revertida e ele não chegou a assumir o cargo.
O ataque de Luxor é um trauma da indústria do turismo do país, mas não o único. Em 2005, uma série de bombas na cidade de resorts Sharm el-Sheikh deixou 88 vítimas, entre eles pelo menos duas dezenas de turistas estrangeiros. Foi o maior atentado terrorista da história do Egito.
No ano seguinte, bombas em Dahab, outra cidade turística, feriram centenas de pessoas e deixaram 20 vítimas, incluindo cinco visitantes estrangeiros. Em 2008, 11 turistas europeus e oito egípcios foram sequestrados perto da fronteira com o Sudão e libertados 10 dias depois sem ferimentos.
A economia egípcia também corre o risco de perder os cerca 1,3 bilhão de dólares anuais fornecidos pelos Estados Unidos em ajuda militar. Desde que Morsi foi retirado do poder, o país tem sido pressionado para reconhecer que houve um golpe, o que teria como consequência a retirada da ajuda financeira. Pelo menos por enquanto, o presidente Obama e o Departamento de Estado ainda não anunciaram uma mudança de posição.