Economia

Como o risco trava parcerias entre governo e empresas no Brasil

A lei das PPPs já tem mais de uma década, mas só cerca de 100 projetos foram firmados. O que está impedindo as parcerias?

Da esquerda para a direita: Fernando Vergalha, da VGP Advogados, José Carlos Martins, da CBIC, José Ferraz Neto, do Sinduscon-SP, Jonas Donizette, prefeito de Campinas, e José Roberto Caetano, de EXAME (Germano Luders/Site Exame)

Da esquerda para a direita: Fernando Vergalha, da VGP Advogados, José Carlos Martins, da CBIC, José Ferraz Neto, do Sinduscon-SP, Jonas Donizette, prefeito de Campinas, e José Roberto Caetano, de EXAME (Germano Luders/Site Exame)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 8 de junho de 2017 às 12h39.

Última atualização em 8 de junho de 2017 às 15h06.

São Paulo – A lei das Parcerias Público-Privadas (PPPs) é de 2004, mas a quantidade de projetos até hoje é relativamente pequena: pouco mais de uma centena.

Por que isso acontece? Se a resposta tivesse que ser uma palavra, ela seria risco - político, jurídico e regulatório, entre outros.

“Risco é custo, esse é um ponto básico. O risco sai do nosso bolso, inibe o investimento e onera quem utiliza esse serviço”, disse José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira de Indústria da Construção (CBIC).

Ele participou de um debate sobre o tema na manhã desta quinta-feira (08) no EXAME Fórum PPPs e Concessões em São Paulo.

José Romeu Ferraz Neto, presidente do Sinduscon-SP, à esquerda, e José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção CBIC, à direita, no Fórum Exame PPPs e Concessões

José Romeu Ferraz Neto, presidente do Sinduscon-SP, à esquerda, e José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção CBIC, à direita (Germano Luders/Site Exame)

Nos municípios, as PPPs têm uma alta taxa de mortalidade: de 162 manifestações de interesse, apenas 34 geraram licitação e 22 se tornaram contratos, segundo números apresentados por Fernando Verdalha, sócio do escritório VGP Advogados.

Um dos problemas é que os municípios não têm corpo técnico adequado, o que aumenta o risco de captura pelo setor privado e exige apoio do governo federal.

Também faltam ferramentas para averiguar o nível de dívida contratual das administrações e políticas regulatórias que permaneçam consistentes no longo prazo.

“Quem acaba alocando o risco é o juiz, no âmbito de ações judiciais, mas ele não é o agente qualificado para fazer isso”, diz Fernando.

Fernando Vernalha sócio do escritório VGP Advogados no Fórum Exame PPPs e Concessões

Fernando Vernalha, sócio do escritório VGP Advogados (Germano Luders/Site Exame)

Uma das ideias é pulverizar o risco, fazendo lotes de concessão menores ou permitindo o aumento do número permitidas em consórcio.

“O modelo concentrador não era bom para ninguém. Não tem porque fazer um lote único de 1000 quilômetros”, diz Martins.

No plano financeiro, o ideal é que as concessões sejam autossustentáveis, mas isso não é sempre possível - e aí entra o desafio de montar fundos públicos confiáveis.

Ferraz Neto apontou uma grande dificuldade de conseguir financiamento, especialmente com as alterações no BNDES nos últimos 12 meses: “As linhas ficaram praticamente impossíveis”.

Jonas Donizette, prefeito de Campinas e presidente da Frente Nacional de Prefeitos, notou que há uma tensão inescapável quando se juntam setor privado e público.

No privado, se lei não proíbe, pode fazer. No público, você só pode fazer se houver uma lei específica que te permita.

“Em lugar nenhum do mundo a velocidade do setor público acompanha a velocidade da iniciativa privada”, disse ele, apontando a necessidade de fortalecer os governos locais e citando impactos positivos de projetos como a renovação do Aeroporto de Viracopos em sua cidade.

Jonas Donizette, presidente da FNP e prefeito de Campinas, no Fórum Exame PPPs e Concessões

Jonas Donizette, presidente da FNP e prefeito de Campinas (Germano Luders/Site Exame)

Outro desafio é a comunicação desse conceito para que a população. Martins citou uma pesquisa apontando que 90% rejeitam privatização, 50% rejeitam concessão e apenas 20% rejeitam parcerias.

Um dos questionamentos de José Roberto Caetano, editor de EXAME, foi sobre como fica o setor de construção brasileiro diante do efeito Lava Jato.

Para Martins, o problema é a incerteza econômica do país e que há "um mito" de que a Lava Jato está segurando os investimentos no setor:

“Quando há mercado, há quem ocupe. Não tenho dúvida alguma de que temos empresas totalmente aptas aqui no Brasil.”

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