Economia

Como o gasto do Brasil fugiu do controle e o que pode ser feito

“A crise fiscal viria com ou sem recessão. a recessão só antecipou e aprofundou a crise”, diz Francisco Pires da Souza, da UFRJ

Ricos: Os vencedores de loteria suecos se mantiveram felizes por mais de dez anos, mostrou o estudo (Gearstd/Thinkstock)

Ricos: Os vencedores de loteria suecos se mantiveram felizes por mais de dez anos, mostrou o estudo (Gearstd/Thinkstock)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 12 de setembro de 2017 às 16h41.

Última atualização em 12 de setembro de 2017 às 17h36.

São Paulo – Um déficit primário de 159 bilhões de reais e uma dívida bruta que pode ultrapassar 90% do PIB até 2024. Como chegamos nessa situação?

A resposta curta: despesas em alta e receitas em queda. A resposta longa: uma dificuldade de manejar o conflito da distribuição em um dos países mais desiguais do planeta.

Este foi o tom do debate feito nesta terça-feira (12) em um Fórum organizado pela Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo.

Todos os convidados concordam que a queda da arrecadação gerada pela recessão não foi o que levou ao problema fiscal, que vem de muito antes.

“A crise fiscal viria com ou sem recessão. A recessão só antecipou e aprofundou a crise”, diz Francisco Pires da Souza, da UFRJ.

Alguns itens ajudaram, como as desonerações e altas de subsídios, parte da política industrial fracassada do primeiro governo Dilma Rousseff.

O que chama a atenção no governo de Michel Temer é a alta de gastos com o funcionalismo público, pressionadas por reajustes. Mas o problema que perpassa todos os governos é o gasto com Previdência.

O ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, disse ontem no mesmo Fórum que essa rubrica já responde por mais da metade dos gastos e que o déficit federal na área chegará a R$ 300 bilhões em 2018.

Que uma reforma é necessária, todos concordam, mas há controvérsia nos detalhes. Nelson Marconi, professor da FGV-EESP, defende maior taxação dos inativos. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, defende foco nos funcionários públicos da camada mais rica da população.

Outros economistas apontaram outros fatores além da Previdência que também pressionam os gastos e terão que ser abordados. Um exemplo é a política de aumento real do salário mínimo, regra que também determina o valor de vários benefícios.

“Uma coisa é dar aumento em um salário mínimo muito baixo. Hoje o valor já é de 50% do salário mediano – e ele é pra ser o mínimo, não o mediano”, diz Manoel Pires, pesquisador associado do IBRE e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

O ajuste fiscal do governo atual tem focado em cortes de despesas discricionários no curto prazo e ajustes estruturais de longo prazo, como a nova taxa de juros do BNDES e o teto de gastos atrelado à inflação.

O mercado aprova a estratégia, vide o recorde na Bolsa e a queda do risco país, e os últimos números de atividade mostram retomada do crescimento.

Mas os economistas alertam que sem novas medidas o teto pode cair em breve, e que o clima político não garante continuidade das reformas:

“Estamos acelerando em direção ao muro e achando que está tudo bem (...) Eu não acho que o próximo governo vai conseguir manter esses ajustes. Esse governo parece que quer criar um país liberal por decreto”, diz Perfeito, que vê um "auto-engano" na euforia atual do mercado.

Acompanhe tudo sobre:Déficit públicoFGV - Fundação Getúlio VargasPrevidência SocialReforma da PrevidênciaSalário mínimo

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto