Guarda-chuva com a bandeira da União Europeia é visto em protesto contra o resultado do referendo sobre o Brexit no dia 28/06/2016 (Jeff J Mitchell/Getty Images)
Ana Laura Prado
Publicado em 16 de dezembro de 2016 às 06h00.
Última atualização em 16 de dezembro de 2016 às 10h32.
São Paulo – Entre junho e novembro, a previsão de crescimento da União Europeia para 2017 caiu de 1,9% para 1,6%, segundo o próprio bloco. Na zona do euro, a projeção caiu de 1,8% para 1,5%.
Estimativas da consultoria Euromonitor vão na mesma direção. No caso da zona do euro, a previsão é de queda do crescimento de 1,7% em 2016 para 1,1% em 2017.
O bloco vive um complicado cenário político que não deve dar folga no ano que vem. O último episódio foi a derrota de um referendo para reformar o Senado na Itália, que causou a queda do governo e pode fortalecer partidos mais extremos no país.
“A soma de questões estruturais e conjunturais gera um medo para a indústria e para a economia”, diz Fernando Botelho, economista e professor da FEA-USP.
A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia, o Brexit, tem sido uma das grandes questões. A incerteza deve dominar até que as negociações terminem, o que está previsto para 2018.
"Uma ruptura no andamento do processo poderia prejudicar a confiança das empresas e de investimentos na Europa", destaca Ugne Saltenyte, gerente de macro-análises da Euromonitor.
Segundo ele, uma quebra nas negociações poderia encorajar ainda mais o sentimento anti-UE nos demais países do bloco.
Partidos de extrema-direita antieuropeus já têm ganhado força para as eleições do ano que vem na França e na Alemanha.
“A economia europeia é muito integrada. A vitória de um líder com postura antieuropeia pode desestabilizar os mercados e dificultar o crescimento”, completa Botelho.
A postura antimigração, característica desses movimentos, é outra preocupação apontada pelo economista.
“A imigração compensa o problema de baixo crescimento populacional da Europa. Se ela adotar uma postura isolacionista, os problemas podem se agravar”.
Essa avaliação é questionada por Jolanda Battisti, professora de Economia da Escola de Administração da FGV, para quem a sensação de instabilidade não é uma novidade no bloco.
“A questão é mais política e relacionada à soberania dos países. Não vejo muito impacto em termos de produção de bens e serviços”.
A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos com uma plataforma protecionista tem enfraquecido as expectativas de comércio do país com a Europa.
Além disso, uma política fiscal expansionista nos EUA, com corte de impostos e maiores benefícios para empresas, por exemplo, poderia causar uma temida desvalorização do dólar.
“O euro ficaria mais forte e isso poderia ter um impacto real nas contas dos países europeus que trabalham com ele”, diz Battisti.
O cenário oposto seria muito bem-vindo para o bloco. De acordo com Botelho, o fortalecimento do dólar poderia ser positivo ao aumentar a competitividade das empresas europeias.
Para a Euromonitor, fatores como Brexit e Trump podem fazer com que o setor externo seja negativo para a economia europeia. Os choques políticos poderiam, inclusive, provocar uma estagnação de investimento.
Em geral, a expectativa é que o crescimento europeu em 2017 tenha como principal componente a demanda interna, sustentada por baixos custos de financiamento externo.
Os juros estão em uma baixa histórica e em alguns países chegam a ser negativos, o que deveria em tese estimular o consumo. Mas outros fatores também pesam, como a baixa inflação na Europa e a crise bancária da Itália.
“Com essa incerteza, é duvidoso que haja uma recuperação via mercado”, diz Botelho.
Battisti, por outro lado, acredita que os números relacionados ao crescimento não são necessariamente fonte de preocupação.
“O importante é o avanço da renda per capita e a manutenção da qualidade de vida e do poder de compra”, explica.
Segundo ela, o baixo crescimento populacional ajuda nisso – ao mesmo tempo, o envelhecimento da população é justamente uma das questões estruturais europeias que tendem a impedir que ela tenha grandes taxas de crescimento.
Altos gastos com fundos previdenciários e mercados de trabalho muito regulamentados também entram na conta.
“Se a Europa quiser crescer, precisa de uma legislação trabalhista mais flexível e favorável aos negócios. Precisa manter esse marco da Europa do mercado comum”, diz Botelho.