Economia

Como destravar os investimentos no Brasil?

"Vocês têm uma das maiores economias e há gente com trilhões de dólares nos bolsos procurando projetos para investir", disse o CEO mundial do Santander

 (denphumi/Thinkstock)

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Rita Azevedo

Rita Azevedo

Publicado em 31 de maio de 2017 às 13h16.

Última atualização em 31 de maio de 2017 às 16h09.

São Paulo -- Superar a instabilidade política, melhorar o trabalho das agências regulatórias, assegurar retorno e previsibilidade aos investidores e tornar as regras de licenciamento ambiental mais eficientes.

Esses são alguns dos desafios que o Brasil deve enfrentar para destravar investimentos, na visão de Hélio Magalhães, diretor do Citi Brasil, de José Antônio Alvarez, CEO mundial do Santander, de Ricardo Ramos, diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de Jorge Familiar, vice-presidente do Banco Mundial para América Latina e Caribe.

Os quatro participaram de um debate promovido pelo Fórum de Investimentos Brasil, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), realizado em São Paulo nesta quarta-feira. 

Os problemas não são pequenos. Por mais que os indicadores econômicos mostrem pequenas melhoras e a promessa de reformas como a trabalhista e a previdenciária encha os olhos do mercado, ainda falta aos investidores a sensação de segurança.

"O que eles esperam é que haja mais transparência", disse Magalhães, do Citi. "Eles esperam saber como vai funcionar o processo e ter a certeza de que as regras serão mantidas no longo prazo."

Se parte disso for resolvido, asseguraram, o percentual de investimentos no país, que no ano passado foi de menos de 20% do PIB (baixo para o padrão de países emergentes), deve aumentar.

"É verdade que as dificuldades brasileiras são grandes, mas áreas como a de infraestrutura continuam sendo interessantes para os investidores", disse Alvarez, do Santander. "Comparando a outros países, é muito difícil você encontrar algum que reúna características como as encontradas por aqui. Vocês têm uma das maiores economias e há gente com trilhões de dólares nos bolsos procurando projetos para investir."

Para que esses recursos cheguem ao país, a atuação do governo não deve ser dispensada. A grande questão, debatida por eles, é qual espaço deve ser ocupado por ele.

"O ideal é que recursos públicos só sejam utilizados para financiamentos quando o privado não for opção", defendeu Familiar, do Banco Mundial.

O papel do BNDES também precisa mudar, disseram. Para Magalhães e Alvarez, o banco de fomento deve abandonar a ideia de financiar totalmente os projetos e focar na assessoria das companhias e na divisão de riscos com as instituições privadas.

"Por muito tempo, o governo ocupou lugares errados, se excedendo nos financiamentos", disse Magalhães. Além de causar prejuízos financeiros, disse ele, isso asfixiou o próprio desenvolvimento do mercado de capitais.

Sobre a atuação do BNDES, Ramos disse que o banco procura diminuir sua participação em projetos e melhorar a situação do mercado de capitais.

"Recentemente, aprovamos uma linha para garantir a liquidez de debêntures. A gente por um período, se houver um default [calote], pode pagar juros e principal para aumentar a segurança do investidor. Tomamos uma série de medidas para que o BNDES tenha um papel de estruturador e não só de financiador", disse Ramos.

Ramos entrou de forma interina no lugar de Maria Silvia Bastos Marques e deixará o posto amanhã (01), dando lugar a Paulo Rabello de Castro, atual diretor do IBGE.

“O BNDES tem que ser como um pai que ajuda a caminhar e também sabe soltar a bicicleta”, afirmou Rabello de Castro na última segunda-feira (29).

Concessões

Em outro debate, específico sobre o setor de infraestrutura, investidores questionaram  a questão da transparência e da segurança nos processos, especificamente nas concessões.

Moreira Franco, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, disse que o "viés ideológico" presente nas concessões anteriores ao governo de Michel Temer foi extinguido com a criação do Programa de Parceiras de Investimentos (PPI). 

"Chegamos com um déficit de 170 bilhões de reais, então não havia alternativa se não criar um ambiente de negócios mais favorável", disse ele. "Não havia saída que não criar um programa de parcerias."

O ministro disse que os resultados dos leilões dos aeroportos e de transmissão  são vistos como os grandes sucessos do PPI. No segundo semestre, disse ele, o foco será em rodovias, portos e aeroportos.

 

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