Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 11 de fevereiro de 2025 às 11h43.
Última atualização em 11 de fevereiro de 2025 às 11h46.
A guerra comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ganhou novos capítulos nos últimos dias e atingiu o Brasil. O republicano cumpriu a promessa e assinou a ordem executiva para impor tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio.
Segundo especialistas ouvidos pela EXAME, as tarifas podem causar um aumento da oferta no mercado interno, o que pode baratear os preços e estimular a indústria nacional. Porém, o aço chinês, já presente no mercado brasileiro e em outros lugares do mundo, tem tomado espaço do produto produzido no Brasil, o que pode fazer com que os estoques fiquem parados e prejudiquem as empresas.
A Associação Brasileira do Alumínio (Abal) disse, em nota, que os impactos das novas tarifas continuam sendo avaliadas. "Além dos impactos na balança comercial, preocupa ainda mais os efeitos indiretos associados ao aumento da exposição do Brasil aos desvios de comércio e à concorrência desleal", diz a entidade.
"Produtos de outras origens que perderem acesso ao mercado americano buscarão novos destinos, incluindo o Brasil, podendo gerar uma saturação do mercado interno de produtos a preços desleais", afirma a Abal.
Os dados mais atualizados do Departamento de Comércio dos Estados Unidos (DOC) mostram que o Brasil será um dos mais afetados pela tarifa de 25% a ser imposta por Trump às importações de aço pelo país. Em 2024, o Brasil foi o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, atrás apenas do Canadá. No acumulado do ano, o país vendeu 4,08 milhões de toneladas, representando 15,5% de tudo que os Estados Unidos compraram de fora. Segundo o governo americano, o montante equivaleu a US$ 2,99 bilhões.
As principais empresas que podem ser afetadas pela medida serão ArcelorMittal, Ternium e CSN, as maiores exportadoras para os americanos. O aço exportado pelo Brasil ao país é majoritariamente semiacabado, ou seja, um insumo intermediário. Ele é comprado pelas siderúrgicas dos Estados Unidos, que processam, laminam e depois vendem para as indústrias, como a automotiva, para virar um produto final.
O consenso dos economistas ouvidos pela reportagem é que o governo brasileiro ainda tem espaço para negociações, para evitar tarifação de fato não seja implementada. O prazo para que as tarifas entrem em vigor é dia 12 de março.
Carla Beni, economista, professora da Fundação Getúlio Vargas e conselheira do Corecon-SP, afirma que o efeito prático dessa possível taxação poderá ser o encarecimento de eletrodomésticos entre 8% e 20% para os americanos, uma vez que o setor siderúrgico é dependente do material. A economista cita que, em 2018, após a taxação de 25% sobre o aço, um estudo da Universidade de Duke mostrou que a elevação de tarifas custou cerca de US$ 1.200 por ano para as famílias americanas em compras. O efeito será inflacionário para a economia americana, segundo a economista.
Sobre os impactos no Brasil, a professora da FGV afirma que os preços internos podem cair, pois, com menos exportação, é possível vender mais dentro do país, o que pode favorecer a indústria nacional. “Se vendermos internamente esse produto, isso pode ajudar muito no desenvolvimento da indústria. Pode até ser um empurrão que ajude o nosso desenvolvimento barateando aço e alumínio internamente”, diz.
Yasmin Riveli, analista da Tendências Consultoria, vê um cenário mais preocupante. Para ela, o setor brasileiro já sofre com a enxurrada de aço importado da China, que tem um custo mais barato que o nacional, e será ainda mais afetado com a possível queda nas exportações de aço e alumínio.
“Vai ser ruim, especialmente se outros países conseguirem uma flexibilização. Caso não tenha cotas para ninguém, podemos permanecer em um patamar estável”, afirma.
A economista afirma que ainda é cedo para calcular o impacto antes de entender como o Brasil e os outros países farão suas tratativas. Ela salienta, no entanto, que os Estados Unidos precisam do aço importado e que não será possível “construírem uma fábrica do dia para a noite”, por isso as importações devem continuar, mesmo com as tarifas, por determinado período.