Economia

Comércio e serviços de São Paulo calculam os prejuízo com violência

Ontem, no auge da violência, a consulta de cheques no comércio caiu 50%. Empresas de ônibus perderam 6 milhões de reais em faturamento, além de 100 000 por veículo destruído pelos criminosos

O Shopping Iguatemi, um dos principais da capital, reforçou a segurança na manhã desta terça-feira

O Shopping Iguatemi, um dos principais da capital, reforçou a segurança na manhã desta terça-feira

DR

Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2010 às 17h20.

Depois de viver uma onda de violência nos últimos três dias, que causou a morte de 115 pessoas, a rotina da economia em São Paulo retorna à normalidade. O comércio voltou a abrir as portas, mas já contabiliza  os prejuízos. Ontem, o número de consultas a cheques, um dos principais indicadores do movimento no  comércio, caiu 50% em comparação ao dia 9 de maio de 2005, o primeiro dia útil após o Dia das Mães.

A Casas Bahia, por exemplo, informou que houve queda de 50% de movimento em toda a rede. Das 273 lojas no estado, 157 fecharam as portas mais cedo.

 

O presidente da Associação Comercial de São Paulo, Afif Domingos, acredita que o movimento irá se normalizar até o final  desta terça-feira (16/5), mas se diz preocupado com o desdobramento dos fatos. "Estamos em contato com vários segmentos da sociedade para fazer uma análise mais criteriosa do que realmente ocorreu", diz Domingos, que chegou a comparar a cidade ao Iraque. Na sua opinião, a maior perda causada ontem não está nos números, mas na repercussão nas mídias nacional e internacional, que pode afetar os investimentos e a geração de empregos no Brasil.

 

As empresas e cooperativas de ônibus da cidade de São Paulo, que tiveram 51 veículos  destruídos, também já começam a contabilizar o prejuízo. Segundo o sindicato patronal do setor, as empresas deixaram de arrecadar 6 milhões de reais com os ataques de ontem - sem contar as perdas dos carros. Um seminovo custa cerca de 100 000 reais. Estima-se que 85 ônibus tenham sido atacados em todo o estado.

 

Toda a frota de 15 000 ônibus da cidade já está circulando - alguns deixaram os terminais com atraso e chegaram às ruas por volta das 6h, quando o normal seria iniciar o expediente às 4h. Ontem, em função dos ataques, as empresas deixaram mais de um terço da frota, ou 5 100 veículos, parados nas garagens.

 

Volta ao normal

 

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que ontem suspendeu a realização do mercado after-market, manterá atividades normais no dia de hoje. Para Adauto Lima, economista-chefe do banco WestLB, a bolsa deve recuperar a liquidez que perdeu ontem com o encerramento precoce das negociações. "Ontem muita gente foi embora mais cedo. O mercado perdeu liquidez e caíram os spreads [diferença entre o preço de compra e o de venda de papéis]", afirma Lima. Hoje, no entanto, na opinião do analista, as negociações não devem mais ser afetadas pela onda de violência.

 

A onda de violência começou na noite de sexta-feira (12/5). Desde então, segundo o último balanço divulgado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado, das 14h30 de ontem, o estado de São Paulo já havia sofrido 180 ataques, oito deles cometidos contra bancos. O saldo de mortos chega a 86, sendo 43 criminosos ou suspeitos, 22 policiais militares, seis policiais civis, três membros da guarda civil metropolitana, oito agentes penitenciários e quatro civis.

Na segunda-feira, o medo de novos ataques fez com que empresas liberassem seus funcionários mais cedo. Às 16 horas, diversas companhias, como Roche, Sadia, Avon, Pirelli e Votorantim, já haviam encerrado o expediente. A Ambev foi além e recomendou que nenhum funcionário permanecesse na empresa após as 18 horas. Nenhuma delas reportou qualquer acidente com funcionários. A justificativa foi a prevenção.

Os shopping centers Iguatemi e Market Place preferiram abrir mão das vendas em nome da segurança - a pedido dos próprios lojistas. Não houve problemas em nenhum dos dois shoppings, mas a poucos quilômetros dali, na Teodoro Sampaio, principal rua comercial do bairro Pinheiros (zona Oeste da cidade de São Paulo), algumas lojas chegaram a ser saqueadas. Com a violência, que atinge a cidade desde a noite de sexta-feira, chegaram também os boatos. O saguão do aeroporto de Congonhas chegou a ser isolado, com a suspeita de uma bomba. Nada foi encontrado.

Os bancos, um dos principais alvos da violência desta segunda-feira, não se disseram abalados pelos ataques. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulgou comunicado afirmando que as agências abrirão normalmente nesta terça, e que os as instituições confiam que "o Estado brasileiro, nas suas várias instâncias, dispõe dos meios apropriados para combater os recentes atos de violência, e que o Estado deve agir com firmeza e rigor, garantindo a segurança da população em geral, incluindo os bancários, clientes e usuários dos bancos". Entoando o mesmo refrão, o Itaú, que teve duas agências incendiadas e outras duas atingidas por vandalismo, também tentou manter clima de tranqüilidade. Os funcionários das duas unidades queimadas foram realocados para não prejudicar o atendimento à população, que deve seguir normalmente nesta terça. "O Itaú confia no trabalho das autoridades competentes e acredita no reestabelecimento da normalidade", afirmou o banco em nota.

Bradesco e Caixa Econômica Federal, outros atingidos pelas investidas do PCC, não se manifestaram a respeito da violência. Já o banco Real, que até a noite de segunda ainda não havia sido alvo dos ataques, preferiu liberar parte dos funcionários mais cedo, por volta das 17 horas.

O impacto negativo da violência na economia não é novidade no Brasil. Uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) já calculou que o país chega a perder 10% do Produto Interno Bruto em função da falta de segurança - principalmente em gastos públicos, dinheiro que poderia ser gasto no setor produtivo. Nos Estados Unidos, a segurança nacional custa 4% do PIB.

O presidente do Centro das Indústra Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Cláudio Vaz, minimizou o prejuízo causado pela violência hoje. Segundo ele, o problema precisa ser olhado no longo prazo. "Com certeza, no longo prazo, a violência tira competitividade das empresas brasileiras, mas isso não vem de hoje. Se compararmos o Brasil com países semelhantes, onde a segurança é maior, veremos que as empresas brasileiras gastam mais com segurança e burocracia, por exemplo. Há uma série de fatores que agregam custos às empresas brasileiras que não estão relacionados a investimentos ou produção", afirma Vaz.

Acompanhe tudo sobre:cidades-brasileirasMetrópoles globaissao-pauloViolência urbana

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto