Economia

Começou desindustrialização no país, diz Mendonça de Barros

Além de mencionar o câmbio valorizado, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda cobra redução nos custos das empresas

J. R. Mendonça de Barros: indústria petroquímica está acelerando importações (Germano Lüders/EXAME)

J. R. Mendonça de Barros: indústria petroquímica está acelerando importações (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2014 às 13h39.

São Paulo - O Brasil iniciou recentemente um processo de desindustrialização que, além do câmbio valorizado, tem como culpado o elevado custo de produção das empresas, na opinião do ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros.

Na semana passada, vazou um documento do Ministério do Desenvolvimento que adverte para os riscos de fechamento de indústrias no Brasil por causa da queda do dólar e da concorrência dos produtos importados. Em comunicado, o governo informou que o documento é interno e serve apenas de subsídio para os debates técnicos.

“Eu não achava isso (que o Brasil vive um processo de desindustrialização) até um ano atrás, mas esse processo começou nesse período mais recente. De um lado, o câmbio valorizou um pouco mais e veio para a casa de um real e 70 centavos. Se fosse só isso, ainda não seria um problema. Mas a coisa mais complicada é que, simultaneamente, os custos das empresas continuaram a subir de forma importante, como carga tributária, logística, energia e mais recentemente os custos de mão de obra. Como todo mundo sabe, bastou a economia crescer um pouco para a mão de obra ficar escassa e mais cara. Então é uma movimento de pinça, que espreme a rentabilidade dos dois lados, subindo os custos e reduzindo a receita por aumento de competição do produto importado”, diz José Roberto Mendonça de Barros, em entrevista a EXAME.com.

O economista citou o fechamento da fábrica de lâmpadas automotivas da Philips no Recife como parte do processo de desindustrialização em andamento no Brasil. “Eu conheço muitos outro casos, por exemplo, na indústria petroquímica. Os próprios industriais estão diminuindo a atividade produtiva e passam a importar toda a linha - ou parte dela - para manter a parcela de mercado.”


O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda afirma que “é visível a olho nu que a velocidade de crescimento da importação é gigantesca; em quantidade, está crescendo 50%. Isso levou inclusive o Banco Central a cometer um equívoco de análise, pelo qual vai pagar um preço. Mudou a estrutura da oferta - a produção doméstica está estagnada e a importação está explodindo -, mas a economia está muito aquecida. O Banco Central olhou a produção doméstica estagnada como indicador de desaceleração da economia, parou de aumentar os juros e inflação está aí subindo”.

Mendonça de Barros, que é sócio-fundador da MB Associados, diz que os instrumentos utilizados nas intervenções no câmbio, como elevação do IOF e quarenta, são “muito pobres de resultados e muito ricos de transtornos na economia.”

“É uma equação muito difícil de ser resolvida e não tem solução no curto prazo. O que eu sinto falta, além da preocupação com o câmbio, é uma ausência de preocupação de políticas para reduzir os custos das empresas. Isso sim é um problema que não é trivial e que lamentavelmente não terá solução no curto prazo.”

O economista considera preocupante a expansão fiscal registradas nos últimos três anos. “Medidas como o reajuste de salário mínimo e do Judiciário, e projetos como o do trem-bala são uma tendência de expansão (dos gastos) muito forte. A solução para a questão cambial começa por uma redução na expansão fiscal. 

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