Ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner: a preocupação do Planalto é que as medidas para a economia, previstas para fevereiro, também têm potencial para provocar divergências (REUTERS/Ueslei Marcelino)
Da Redação
Publicado em 11 de janeiro de 2016 às 09h50.
Brasília - O governo tenta apressar o lançamento de medidas de estímulo à economia para tirar o foco das denúncias contra o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, e dos desdobramentos da Operação Lava Jato.
Embora o Palácio do Planalto não considere as acusações "comprometedoras", a avaliação do núcleo próximo à presidente Dilma Rousseff é a de que Wagner virou alvo justamente por seu papel na estratégia de evitar o impeachment e também pela ausência de uma "agenda positiva" para se contrapor à crise política.
A preocupação do Planalto é que as medidas para a economia, previstas para fevereiro, também têm potencial para provocar divergências. A ideia de Dilma é ouvir sindicalistas, empresários e líderes da base antes de divulgá-las.
Além da concessão de crédito para impulsionar setores como a construção civil, Dilma disse que pretende "perseguir" ações de maior fôlego, como as reformas da Previdência e tributária.
Antes da nova leva de denúncias da Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia aconselhado Dilma a aproveitar o recesso parlamentar para se reaproximar do vice Michel Temer, que comanda o PMDB, e de deputados e senadores da base. O governo avaliava que a crise daria uma trégua em janeiro, mas foi "atropelado" pelas acusações contra Wagner.
A apreensão no Planalto e no PT tem motivo: capitão do time e um dos principais encarregados de fazer o segundo mandato de Dilma "funcionar", o chefe da Casa Civil é o nome mais cotado do PT para a sucessão da presidente, em 2018, caso Lula não queira ou não possa ser candidato.
"A falta de perspectiva econômica ocorre por causa dessa crise política, que só se agrava", disse o senador Jorge Viana (PT-AC).
A divulgação de mensagens interceptadas por investigadores da Lava Jato, reveladas pelo Estado, indicaram a proximidade de Wagner com o ex-presidente da empreiteira OAS José Adelmário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro, um dos condenados por participação no esquema de corrupção da Petrobrás.
Há desde negociação de apoio financeiro ao candidato do PT à Prefeitura de Salvador em 2012, Nelson Pellegrino, a pedidos de intermediação de Wagner, então governador da Bahia, com o Planalto para favorecer empresários.
Além disso, o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, um dos delatores da Lava Jato, disse que Wagner recebeu recursos desviados da estatal na campanha de 2006. O ministro afirmou que não foi divulgada até agora qualquer prova contra ele e chamou as denúncias de "ilações", de gente que "ouviu dizer".
Interlocutores de Dilma atribuíram os "vazamentos ilegais e seletivos" ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que nega a acusação. "Todo dia há vazamentos de órgão do governo contra mim e ninguém fala nada", afirmou.
Cunha aparece nas mensagens de Léo Pinheiro, assim como os ministros Edinho Silva (Comunicação Social) e Henrique Alves (Turismo).