PIB: resultado acima do esperado provocou uma avalanche de revisões (thiagonori/Getty Images)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 1 de setembro de 2023 às 16h22.
Última atualização em 1 de setembro de 2023 às 16h38.
O crescimento de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre surpreendeu o mercado e provocou uma onda de revisões das estimativas para o crescimento de 2023 pelos economistas e pelo próprio governo. As projeções, que estavam mais perto de 2,5%, passaram a até 3,25%.
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Em relatório aos clientes, o banco JP Morgan revisou a estimativa para o crescimento de 2,4% para 3,0%. A instituição financeira espera a partir do terceiro trimestre um processo de estabilidade da produção, diante das condições financeiras mais restritivas.
Segundo o banco, a melhora da previsão para 2023 é impulsionada pelas exportações e com notável resiliência no consumo público e privado.
“A força recorrente do PIB observada nos últimos anos levanta a questão de saber se o PIB potencial é mais forte do que presumimos", escreveram analistas do JP Morgan. "Até agora, estamos céticos em relação a esta hipótese, uma vez que vários choques nos últimos dois anos tenderam a ajudar, mais do que a prejudicar, o desempenho econômico do Brasil."
Apesar disso, avaliam, "com uma maior transferência estatística e perspectivas de que o setor agrícola possa permanecer sólido no próximo ano, revisamos a nossa previsão do PIB para 2024 de 1% para 1,2%.”
O economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, revisou a projeção de crescimento de 2,65% para 3,25%. Segundo ele, o estímulo ao consumo por meio do Bolsa Família tem favorecido a economia e continuará a impulsionar a geração de riquezas no país nos próximos trimestres.
“No futuro, esperamos que a atividade se beneficie de estímulos fiscais e parafiscais, da expansão da massa salarial real e da diminuição da inflação alimentar", afirma Ramos.
O economista pondera que, por outro lado, o "impulso desvanecido da reabertura econômica, as condições monetárias e financeiras internas restritivas, os elevados níveis de endividamento das famílias, os baixos níveis de folga econômica, a moderação da criação de emprego e a incipiente reviravolta no ciclo de crédito deverão gerar ventos contrários à atividade após o segundo trimestre".
Em relatório aos clientes, a MB Associados chamou atenção para o fato de que a indústria extrativa, com 1,8% de expansão, sinaliza a força das commodities como um todo ao longo do primeiro semestre. Nas contas da MB, 50% do crescimento do PIB no primeiro semestre decorreu das commodities, tanto agrícolas quanto metálicas e petróleo e gás.
“Para o segundo semestre a tendência é de desaceleração leve, com o PIB crescendo acima de 2% nos dois trimestres, o que significa crescer zero na margem no terceiro trimestre e cair 0,2% no quarto. Com isso, o PIB sairia dos 2,5% estimados anteriormente para 3%, nossa nova estimativa”, informou o economista-chefe, Sergio Vale, ressaltando que "pode haver surpresas positivas novamente".
A MB ainda afirmou que no segundo semestre haverá um impacto da queda de preços de alimentos, que resulta em ampliação da renda disponível para a população mais pobre. Segundo a consultoria, a queda de preços da comida pode ser afetada pelo El Niño. Nos próximos meses, porém, o efeito de queda de preços no setor seguirá visível.
“Junto a isso tem o efeito do Desenrola, que aumenta o potencial de crédito para o consumo dos mais pobres especialmente no final do ano. Por fim, a queda de juros pode ter algum efeito, mesmo que pequeno, no Natal”, avalia a MB Associados. "Com isso, ao impacto das commodities pode se juntar o efeito adicional do consumo via estímulos adicionais o que pode fazer com que o PIB cresça 3% ou até mais."
Diante do cenário positivo, a MB espera um crescimento do PIB de 2% em 2024.
Vale lembra que o bom momento da economia brasileira pode sempre ser afetado negativamente pelo cenário internacional. Nesse caso, os sinais adversos na China, cujo crescimento vem desacelerando, e nos Estados Unidos, onde a inflação e os juros estão nas máximas das últimas décadas.
“No front interno, 2024 será ano fundamental, pois saberemos qual caminho tomará o BC e especialmente o que Haddad conseguirá entregar no fiscal, em termos de resultado primário e reforma do imposto de renda. Ainda será ano de crescimento”, finalizou Vale. "Para mais do que isso, de 2025 em diante, teremos que enfrentar os nós fiscais ainda não resolvidos."
A surpresa do PIB é bem-vinda. Se concretizado, o trabalho de balanceamento fiscal e de reformas estruturais, como a tributária, seguirá surpreendendo economistas trimestre a trimestre. O Brasil ganha.