Economia

Com reação lenta, há risco de recessão, diz economista

Para o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, após terem se endividado na crise, brasileiros podem estar poupando mais

Carlos Kawall: para o economista-chefe do Banco Safra nota mudanças no padrão de consumo da população brasileira (Divulgação/Divulgação)

Carlos Kawall: para o economista-chefe do Banco Safra nota mudanças no padrão de consumo da população brasileira (Divulgação/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de maio de 2019 às 12h44.

São Paulo - As frustrações sucessivas com o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) podem indicar que a economia do País está passando por mudanças estruturais que não haviam sido consideradas em um primeiro momento, segundo o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall.

Uma dessas possíveis alterações, diz ele, seria no padrão de consumo da população.

Após ter ficado muito endividada durante a crise, parte dos brasileiros pode estar poupando mais. "É possível que esteja acontecendo (no Brasil) algo semelhante ao que ocorreu nos EUA (depois da crise de 2008). O americano voltou a padrões de poupança que se via nos anos 90."

O economista também fala em redução dos juros A seguir, trechos da entrevista.

Como o sr. define a situação econômica? Podemos estar em recessão técnica (dois trimestres consecutivos com PIB negativo)?

É uma reação muito lenta. O crescimento era muito fraco e piorou. Existe risco de recessão técnica, claro. Estamos errando (as projeções de crescimento) há muito tempo. São vários anos achando que a economia iria melhorar. Por isso, (a crise atual) pode ter a ver com coisas mais estruturais.

Que questões estruturais?

Um ponto é a poupança da família, que pode levar a uma propensão menor a consumir. É possível que esteja acontecendo algo semelhante ao que ocorreu nos EUA (depois da crise de 2008). Quando você tem um ciclo de expansão de renda e crédito muito acentuado, cria uma sensação de que o bem estar está garantido e facilita decisões de 'despoupança'.

Na crise, a reação é retrair o gasto. Hoje o americano voltou a padrões de poupança que se via nos anos 90. Há duas hipóteses: uma explicação cíclica - quando o mercado de trabalho melhora, a pessoa poupa menos - ou pode haver um aprendizado. Nesse caso, quem levou um tombo, ficou inadimplente, vai ter um padrão de consumo mais prudente. É possível que isso esteja acontecendo.

Tem também a questão dos juros mais baixos. A mudança (na política econômica desde 2016) pode indicar um novo equilíbrio macroeconômico, com juros de equilíbrio mais baixo. Com juro mais baixo, a política monetária estaria estimulando pouco (a economia). Nesse sentido, achamos que a Selic (a taxa básica de juros, hoje em 6,5%) pode cair para 5,5% até o fim do ano. Mas tem de esperar pelo menos a aprovação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados .

No fim do ano, o mercado e os economistas estavam bem mais otimistas. O risco político foi subdimensionado?

Acho que sim, mas isso não explica o erro todo do PIB. Nós tínhamos uma previsão de 2,7% (de crescimento para 2019) e agora caiu para 1%. É muita coisa para ser só incerteza política. Mas é verdade que houve otimismo dentro de uma percepção de que a aprovação da reforma da Previdência seria mais rápida.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraPIBPIB do BrasilRecessão

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo