Japão: no Conselho Europeu do começo de março, os mandatários pediram que se avance "com determinação" no acordo comercial do Japão (Tomohiro Ohsumi/Getty Images)
AFP
Publicado em 21 de março de 2017 às 15h51.
A União Europeia aposta no Japão, país com o qual espera traçar em 2017 as grandes linhas de um ambicioso acordo comercial, para reafirmar sua vocação a favor do livre-comércio em relação ao protecionismo de Donald Trump nos Estados Unidos.
"Este acordo é necessário pois acreditamos em um livre-comércio, justo e baseado em normas", disse nesta terça-feira o presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker, durante um encontro em Bruxelas com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, em companhia do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
Juncker se declarou "confiante" em que o acordo possa ser concluído em 2017.
No Conselho Europeu do começo de março, os mandatários pediram que se avance "com determinação" no acordo comercial do Japão, sua principal prioridade, mas também no negociado com os países do Mercosul e na modernização do acordo comercial com o México.
Essa declaração em favor de um comércio "livre e justo" contrasta com o protecionismo de Donald Trump e de seu governo, hostis ao multilateralismo da Organização Mundial de Comércio (OMC).
Desde que assumiu o cargo em 20 de janeiro, Trump confirmou a retirada de seu país do Tratado de Associação Transpacífico (TPP) assinado com 11 países da região Ásia-Pacífico, entre eles o Japão, terceira potência econômica mundial.
Recentemente, durante um G20-Financeiro na Alemanha, os Estados Unidos conseguiram a retirar do comunicado final uma diretriz que condena o "protecionismo".
Apesar de tudo, Shinzo Abe se mostrou conciliador com Washington e convidou na terça-feira a União Europeia a "cooperar com os Estados Unidos" para defender o livre comércio no mundo "diante das preocupantes tendências protecionistas"
O acordo UE-Japão, negociado há quatro anos em meio a uma relativa indiferença pode ter mais importância do que o recentemente concluído com o Canadá, o Ceta, e que foi objeto de virulentas críticas.
Os intercâmcios com o Japão, sexto parceiro comercial da UE em 2016, representam 3,6% do comércio exterior europeu, o dobro dos intercâmbios com o Canadá. Segundo um estudo de impacto da Comissão, o acordo geraria um aumento do PIB europeu de 0,76% no longo prazo.
Mas as negociações tropeçam no tema agrícola: os europeus veem no Japão um mercado muito interessante, que precisa de produtos de qualidade, mas o setor é muito sensível para os japoneses, preocupados com sua carne de boi, de porco e de seus produtos lácteos.
Outro obstáculo é o setor automotivo, que Tóquio gostaria que fosse mais liberalizado dentro da UE.
Os europeus sinalizaram que estão dispostos a completamente seu mercado, mas não sem contrapartidas, já que o setor automotivo é um de seus principais valores comerciais.
Apesar do desejo das duas partes em avançar, as incertezas políticas persistem.
Os próprios negociadores admitem que o futuro tratado deve ser muito parecido ao que foi assindao do Canadá.
O acordo poderá incluir, se o Japão aceitar, um tribunal permanente encarregado de arbitrar eventuais litígios entre as multinacionais e os Estados, assunto que foi considerado muito problemático pelos críticos do Ceta.
A maioria das ONGs a tratado contrárias ao acordo com o Canadá, contatadas pela AFP, permanecem até o momento silenciosas em relação ao futuro acordo com o Japão.