Trump: EUA e México fizeram um acordo sobre imigração nesta sexta-feira (7) (Tom Brenner/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de junho de 2019 às 11h50.
Pressionados pelo ultimato dos EUA de elevar em 5% as tarifas a partir de segunda-feira, produtores e empresários do México estão enviando automóveis, abacates, telhas e pimenta, entre outros produtos, às pressas para o país vizinho. A Casa Branca afirmou ontem que o presidente Donald Trump deixaria assinado o decreto que impõe a sobretaxa, para forçar o México a ampliar as ações para barrar centro-americanos em busca do sonho americano.
"Você vê esses gerentes de cadeias de suprimento em lágrimas, simplesmente levando as coisas o mais rápido que conseguem", disse Jerry Pacheco, presidente da Associação Industrial de Fronteira em Santa Teresa, Novo México.
Sandra Maldonado, que presta serviço de consultoria legal para fábricas de manufatura, disse que um de seus clientes, um fabricante de móveis, pode perder US$ 1 milhão por dia se as novas tarifas entrarem em vigor. Franz Felhaber, um despachante aduaneiro na área de exportação de pimenta, calcula que os encargos custarão US$ 35 mil para os 100 caminhões que cruzam a fronteira todos os dias na alta estação das exportações de jalapeño, que começa em algumas semanas.
Exportadores têm de pagar taxas antecipadas, uma prática que ameaça seu fluxo de caixa, mesmo que eles as repassem para os consumidores. Ele calcula que se as tarifas chegarem a 25% em outubro, dentro da escalonagem que Trump prometeu fazer, dois terços de seus clientes abandonarão os negócios.
Em sua conta no Twitter, Trump afirmou que há uma "boa chance" de que as autoridades americanas e mexicanas que se reúnem desde quarta-feira em Washington atinjam um acordo que remova a necessidade de impor tarifas. "Se conseguirmos alcançar o acordo com o México, e há uma boa chance de que o façamos, eles poderão comprar produtos agrícolas em níveis muito altos, começando imediatamente", disse Trump no Twitter. "Se não conseguirmos fechar o acordo, o México começará a pagar as tarifas de 5% na segunda-feira!"
Na quarta-feira, ele afirmou que o primeiro dia de reuniões trouxe avanços, mas não foram suficientes para resolver o problema migratório.
"Há um longo caminho a percorrer, não chegamos nem perto do fim das discussões", disse Marc Short, chefe de gabinete do vice-presidente Mike Pence, um dos encarregados das negociações. "Mas acho que há a possibilidade de chegarmos a um acordo, se as negociações continuarem indo bem", disse Short.
Na quinta-feira, o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, que coordena as negociações em Washington, anunciou a mobilização de 6 mil membros da Guarda Nacional para a fronteira com a Guatemala, a fim de conter o fluxo de imigrantes centro-americanos. A medida é uma tentativa de evitar a imposição de tarifas alfandegárias americanas.
As autoridades mexicanas já tinham ordenado o bloqueio das contas bancárias de 26 pessoas supostamente envolvidas no tráfico de imigrantes, além do retorno de cerca de 100 hondurenhos a seu país de origem e a detenção de ativistas que defendem os direitos de imigrantes. Forças de segurança impediram nesta semana a entrada de uma caravana de cerca de 1.200 imigrantes, a maioria hondurenhos.
Segundo o governo mexicano, 300 mil imigrantes já chegaram ao país a partir da Guatemala somente neste ano, e as autoridades detiveram 51 mil deles - isso representa um aumento de 17% em relação ao mesmo período de 2018. A fronteira do México com a Guatemala tem 1.138 quilômetros de comprimento, grande parte de campos abertos e selva.
Trump acusa o México de tomar pouca ou nenhuma atitude contra os imigrantes da América Central que têm se movido em grandes grupos pelo país rumo aos EUA.
Pence afirmou que os EUA se sentem "motivados" pelas mais recentes propostas do México para controlar o fluxo migratório, mas Washington mantém a intenção de aplicar tarifas alfandegárias "caso não se chegue ao acordo desejado".
O jornal Washington Post informou na quinta-feira que as autoridades mexicanas e americanas discutem um acordo que aumentaria drasticamente os esforços de imigração do México e daria aos EUA mais liberdade para deportar centro-americanos em busca de asilo.
O plano, uma ampla reforma das regras de asilo em toda a região, exigiria que os imigrantes da América Central procurassem refúgio no primeiro país em que entram depois de deixar sua terra natal. Para os guatemaltecos, seria o México. Para os imigrantes de Honduras e El Salvador, seria a Guatemala, cujo governo manteve conversas na semana passada com o secretário interino de segurança interna, Kevin McAleenan. Segundo o Departamento de Segurança Interna dos EUA, o número de pessoas detidas na fronteira subiu, em maio, para 132.887 pessoas. Do total, 11.507 eram crianças que viajavam desacompanhadas. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.