Economia

Com deflação de 0,31% em abril, país tem menor IPCA dos últimos 22 anos

O grupo Transportes teve o maior impacto negativo do mês, quando se intensificaram as medidas de isolamento social para conter a covid-19

Combustível (Martin Divisek/Bloomberg)

Combustível (Martin Divisek/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 8 de maio de 2020 às 09h04.

Última atualização em 8 de maio de 2020 às 11h12.

Sob o impacto da pandemia do novo coronavírus, o Brasil registou uma deflação de 0,31% em abril, puxada pela queda de 9,59% no preço dos combustíveis, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 8.

Trata-se da menor variação mensal desde agosto de 1998. Vale ressaltar que as medidas de isolamento social adotadas para conter a disseminação da covid-19 passaram a vigorar com maior intensidade durante o mês de abril no país. Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) havia ficado em 0,07%.

Com queda de 2,66%, o grupo Transportes teve o maior impacto negativo no IPCA de abril, de -0,54 ponto percentual (p.p.). O recuo acentuado no preços dos combustíveis foi puxado pela redução de 9,31% na gasolina, que exerceu o maior impacto individual negativo no índice do mês, de -0,47 p.p.

O IBGE mostra que a gasolina registrou deflação em todas as 16 regiões pesquisadas, sendo a maior em Curitiba (-13,92%) e a menor no Rio de Janeiro (-5,13%). Etanol (-13,51%), óleo diesel (-6,09%) e gás veicular (-0,79%) também apresentaram queda em abril.

Além de transportes, outros cinco grupos tiveram impacto negativo no IPCA de abril. A segunda maior contribuição veio de Artigos de residência (-0,05 p.p.), seguido por Saúde e Cuidados Pessoais (-0,03 p.p) e Habitação (-0,02 p.p.), grupo influenciado pelo recuo nos preços da energia elétrica (-0,76%). 

 

(IBGE/Divulgação)

Entre as altas, a maior contribuição positiva de abril veio de Alimentação e bebidas (1,79%), que segue aumentando e acelerou em relação ao resultado do mês anterior (1,13%), destaca o Instituto.

A alimentação no domicílio passou de 1,40% em março para 2,24% em abril, com destaque para as altas da cebola (34,83%), da batata-inglesa (22,81%), do feijão-carioca (17,29%) e do leite longa vida (9,59%). Já as carnes (-2,01%) apresentaram queda pelo quarto mês consecutivo, com ainda mais intensidade que no mês anterior (-0,30%).

"Há uma relação da restrição de oferta, natural nos primeiros meses do ano, e do aumento da demanda provocado pela pandemia de Covid-19, com as pessoas indo mais ao mercado, cozinhando mais em casa", explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, no material de divulgação. 

Já a alimentação fora do domicílio passou de 0,51% em março para 0,76% em abril, influenciada pela alta do lanche (3,07%). A refeição registrou deflação (-0,13%) pelo segundo mês consecutivo, após queda de 0,10% em março.

Outra alta foi das passagens aéreas, que subiram 15,1% após três meses consecutivos de quedas. O item ônibus urbano também teve variação positiva (0,11%), em função do reajuste de 5% no preço das passagens em Salvador (1,56%), em vigor desde 12 de março, diz o Instituto.

Variação marçoVariação abril
Índice geral0,07-0,31
Alimentação e Bebidas1,131,79
Habitação0,13-0,1
Artigos de Residência-1,08-1,37
Vestuário0,210,1
Transportes-0,9-2,66
Saúde e Cuidados Pessoais0,210,22
Despesas Pessoais-0,23-0,14
Educação0,590
Comunicação0,04-0,2

 

Impacto março (p.p.)Impacto abril
Alimentação e Bebidas0,220,35
Habitação0,02-0,02
Artigos de Residência-0,04-0,05
Vestuário0,010
Transportes-0,18-0,54
Saúde e Cuidados Pessoais0,03-0,03
Despesas Pessoais-0,03-0,01
Educação0,040
Comunicação0-0,01

Decisão sobre os juros

O resultado do IPCA de hoje veio pouco abaixo do esperado pelo mercado, segundo mediana das previsões. Na opinião de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a grande dispersão das apostas deste mês reflete um maior grau de incerteza. Além disso, "reforça a necessidade de corte de juros na reunião de junho", embora ainda seja difícil de mensurar o tamanho do corte, diz.

Nesse sentido, consultoria 4E diz que o Banco Central "está correto em antecipar, na medida do possível, a piora rápida na perspectiva de crescimento para a economia, ao agir para tentar amenizar as sequelas que a crise irá deixar no médio-longo prazo". A instituição anunciou nessa quarta um corte de 0,75 ponto percentual na Selic, taxa básica de juros da ecomomia, e indicou que fará um corte de igual magnitude na reunião de junho.

O fato de os preços estaram sob controle, de forma que a inflação não fique acima da meta, de 4% em 2020, é determinante para que a taxa básica de juros possa cair, já que a finalidade do corte é aquecer a demanda. Pela teoria, juros mais baixos deixam o crédito mais barato e estimulam a circulação de dinheiro na economia. O desafio do cenário atual, porém, é estimular o consumo em meio à quarentena, que obrigou negócios não essenciais fecharem suas portas e consumidores focarem em bens indispensáveis.

Acompanhe tudo sobre:CombustíveisIBGEInflaçãoIPCA

Mais de Economia

MP do crédito consignado para trabalhadores do setor privado será editada após o carnaval

Com sinais de avanço no impasse sobre as emendas, Congresso prevê votar orçamento até 17 de março

Ministro do Trabalho diz que Brasil abriu mais de 100 mil vagas de emprego em janeiro

É 'irrefutável' que vamos precisar de várias reformas da previdência ao longo do tempo, diz Ceron