Bandeiras da Grécia e da Alemanha (Thomas Peter/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 17 de março de 2015 às 16h46.
São Paulo - Os ânimos estão quentes entre Grécia e Alemanha.
Neste final de semana, a rede de televisão alemã RDF exibiu no programa do apresentador Guenther Jauchum um vídeo gravado em maio de 2013.
Nele, o atual ministro de Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, então um professor universitário, dá um discurso em que diz: "minha proposta é que a Grécia deve simplesmente anunciar que está dando o calote como a Argentina fez, e dar o dedo para a Alemanha". Naquele momento, as imagens mostram ele levantando o dedo do meio.
O ministro, que estava participando do programa por videoconferência naquele momento, diz que as imagens foram manipuladas, mas a rede alega não ter evidências disso.
https://youtube.com/watch?v=GNPCqqpHQ9k
Um dos homens que filmaram o evento disse ao Guardian que o discurso teve 57 minutos e que o trecho foi retirado de contexto.
Polêmicas
O ministro já não estava tendo uma boa semana. A publicação de um ensaio de estilo em uma revista francesa gerou repercussão negativa nas redes sociais e uma expressão de arrependimento de Yanis.
No fim de semana, o ministro interrompeu uma entrevista com a reportagem da CNBC após ser questionado se havia se tornado um peso para seu partido.
Yanis é conhecido pelo estilo sem papas na língua. No passado, ele não hesitou em comparar a Grécia atual com a Alemanha pré-nazista ao lado do seu colega de cargo alemão, Wolfgang Schaueble.
Grexit
A maioria dos alemães já quer que a Grécia saia da zona do euro, de acordo com uma pesquisa feita pela rede pública ZDF. 52% são a favor da "Grexit" e 40% são contra. Ainda em fevereiro, as proporções eram opostas.
82% duvidam que a Grécia vá levar em frente os cortes e reformas prometidos, enquanto apenas 14% estão confiantes disso. 80% acham que o governo grego "não está se comportando de forma séria em relação a seus parceiros europeus".
A mudança na atitude ocorre em meio a negociações tensas. O partido de esquerda Syriza chegou ao poder na Grécia em janeiro prometendo acabar com a política de austeridade aplicada nos últimos anos como exigência dos sucessivos pacotes de resgate.
De 2006 até 2014, a relação entre dívida e PIB da Grécia foi de 103% para 177%. Desde a crise de 2011, o governo da Grécia e seu sistema financeiro tem sido mantidos solventes por bilhões dos seus parceiros europeus, especialmente a Alemanha.
Agora, o novo governo pede mais flexibilidade e promete novas reformas (algumas delas polêmicas) em troca de algum espaço fiscal para honrar promessas de campanha.
O primeiro-ministro Alexis Tsipras deve visitar a Alemanha pela primeira vez desde a posse na próxima segunda. Há quem diga que a Europa já está mais preparada do que no passado para uma eventual saída da Grécia, mas as consequências disso são imprevisíveis.
De qualquer forma, está cada vez mais difícil para Angela Merkel justificar novos acordos para seu Parlamento e evitar que o eleitorado migre para partidos antieuropeus, uma tendência em vários países do bloco.