Banco Central avaliou que os níveis de aversão ao risco na zona do euro estão mais elevados do que na crise de 2008 (Divulgação/Banco Central)
Da Redação
Publicado em 15 de dezembro de 2011 às 14h38.
Brasília - O Banco Central (BC) reduziu as previsões de inflação para 2012, que estará ao redor do centro da meta oficial de 4,5 por cento, diante da deterioração e "incerteza acima do usual" na economia internacional. As informações constam da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta quinta-feira.
"Para 2012, as projeções de inflação no cenário de referência e no de mercado se reduziram, posicionando-se ao redor do valor central da meta nos dois cenários," consta do documento sobre a reunião da semana passada, quando foi reduzida a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 11 por cento ao ano.
Na ata anterior, o Copom havia elevado as projeções de inflação para 2012 nesses dois cenários, mas já sustentava que no modelo central de análise chamado de Samba a meta seria atingida no ano que vem. Agora, os três cenários mostraram convergência, conforme destacaram economistas ouvidos pela Reuters.
Por outro lado, o BC informou que as estimativas para a inflação neste ano, considerando o cenário de mercado, elevaram-se, permanecendo acima do centro da meta, de 4,5 por cento.
Analistas do mercado financeiro sustentaram que a ata da última reunião do Copom mostra que o BC continuará a reduzir a taxa de juros em 0,5 ponto nas próximas reuniões. Mas permanecem dúvidas sobre quando acaba o processo de flexibilização monetária, conforme mostrou pesquisa da Reuters publicada antes do último encontro.
A queda na projeção de inflação para 2012 veio acompanhada de uma perspectiva mais deteriorada da economia internacional. O BC continuou a considerar que o impacto na economia brasileira será de 25 por cento do visto na crise internacional de 2008 e 2009.
O BC avaliou que os níveis de aversão ao risco na zona do euro estão mais elevados do que na crise de 2008. Na ata da reunião anterior, a autoridade monetária via os níveis em patamares similiares aos das turbulências há três anos.
Apesar de maior preocupação com a crise internacional, a autoridade monetária suavizou a linguagem sobre o efeito nos países emergentes, mesmo considerando ter havido redução na perspectiva de crescimento dessas economias.
A autoridade monetária considerou ainda que a demanda doméstica será impactada pelos efeitos das recentes ações de política monetária implementadas.
O Banco Central considera que o mercado interno continua forte e será impactado pelas recentes medidas de estímulo tomadas. "Por outro lado, iniciativas recentes reforçam um cenário de contenção das despesas do setor público," consta do documento. Apesar de haver moderação da demanda doméstica, são favoráveis as perspectivas para a atividade econômica.
"Essa avaliação encontra suporte em sinais que, apesar de indicarem arrefecimento, apontam que a expansão da oferta de crédito tende a persistir tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas," informou o BC.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem dito que em 2012 o governo vai dar continuidade ao processo de solidez e responsabilidade fiscal com o cumprimento da meta cheia do superávit primário de 139,8 bilhões de reais. Mas tem sublinhado preocupação com aumentos de gastos aprovados pelo Congresso como reajustes para servidores ou elevação de emendas para os parlamentares.
Continuidade na queda
O economista-sênior do BES Investimento, Flávio Serrano, afirmou que a convergência dos cenários de inflação para o ano que vem está dando confiança para o BC continuar a reduzir a taxa de juros em 0,5 ponto nas próximas reuniões do Copom.
"A projeção de inflação no modelo novo Samba e nos tradicionais estão próximos do centro da meta. Isso faz com que ele esteja ganhando confiança para o que está fazendo na política monetária," afirmou Serrano.
Os economistas ouvidos pela Reuters disseram que o BC começará 2012 dando continuidade ao afrouxamento da política monetária, levando a taxa para 10 por cento ao ano ainda no primeiro trimestre. "Ele vai continuar a reduzir logo na primeira reunião do ano em 0,5 ponto. Só se acontecer algo muito diferente -resolução rápida da crise ou crise mais aguda, o que são modelos improváveis," afirmou Tomás Brisola, economista do Banco BBM.
Ele destacou que a ata não sinalizou qual o tamanho do ciclo monetário que iniciou em agosto quando reduziu em 0,5 ponto a Selic, surpreendendo analistas financeiros. "Ele não está se comprometendo com o tamanho do ciclo, em principio fazer ajustes moderados, está bem solto para fazer o que quiser sem dar sinal," disse Brisola.
O Copom considerou ainda relevante a persistência entre o descompasso entre crescimento da oferta e demanda. E entendeu estar havendo sinais de moderação no mercado de trabalho. Sublinhou risco de "concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade e suas repercussões negativas sobre a dinâmica da inflação." O Banco Central elevou a projeção de reajuste de tarifa de de eletricidade para 4,5 por cento. No ano que vem, a expectativa é de crescimento de 1,5 por cento nos preços cobrados pelo serviço de telefonia fixa e de 2,3 por cento para eletricidade.
A previsão para reajuste de preços administrados por contrato e monitorados para o acumulado de 2011, segundo o cenário de referência, elevou-se para 6,1 por cento, ante os 5,5 por cento considerados na reunião do Copom de outubro.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) referência para o BC, subiu 0,52 por cento em novembro, o que representa uma taxa acumulada em 12 meses de 6,64 por cento, ainda acima do teto da meta de 6,5 por cento. Apesar disso, os preços estão se desacelerando, já que nos 12 meses encerrados em outubro o IPCA estava em 6,97 por cento.